A Casa Cunhadora de Vila Rica, localizada na atual cidade de Ouro Preto (Minas Gerais), foi a mais importante e emblemática casa de cunhagem do Brasil colonial. Situada no coração do Ciclo do Ouro, sua criação foi fundamental para consolidar o controle da Coroa Portuguesa sobre a extração e circulação de riquezas minerais na capitania das Minas Gerais.
Este artigo explora a origem, funcionamento, emissões monetárias, importância histórica e o legado deixado por esta instituição na história econômica e numismática brasileira.
A descoberta de grandes jazidas de ouro no final do século XVII nas regiões de Minas Gerais provocou uma verdadeira corrida do ouro, com a migração de milhares de colonos, bandeirantes e comerciantes para a região. A enorme quantidade de ouro extraído demandava a criação de mecanismos eficazes de controle fiscal e monetário.
Em função desse cenário, a Coroa Portuguesa instituiu a Casa de Fundição e Cunhagem de Vila Rica em 1724, durante o reinado de D. João V. Ela foi instalada na então Vila Rica, o mais importante centro urbano e administrativo da capitania, com a função de centralizar a fundição, cobrança do quinto (20% do ouro extraído) e a cunhagem de moedas de ouro.
A Casa Cunhadora de Vila Rica era responsável por:
Fundir o ouro extraído das minas em barras seladas e moedas.
Recolher o imposto do quinto e assegurar o controle sobre a produção de ouro.
Cunhar moedas oficiais, conforme os padrões determinados pela metrópole.
Contava com uma estrutura robusta:
Oficinas de fundição e cunhagem.
Armazéns para armazenamento de ouro e moedas.
Ensaiadores, responsáveis pela verificação da pureza do ouro.
Guarda régia para a proteção do cofre e transporte de valores.
Supervisão direta de autoridades régias nomeadas pelo rei.
A Casa de Vila Rica produziu moedas de ouro de grande importância histórica e numismática.
Foram cunhadas:
Meia peça (2.000 réis)
Peça de 4.000 réis
Peça de 6.400 réis (dobrão)
As moedas ostentavam:
Brasão da Coroa Portuguesa.
Marcação da letra “R” (indicando a origem em Vila Rica).
Inscrições latinas como “Sub Auspiciis Regis”.
Data de cunhagem e efígie real (dependendo do monarca vigente).
A Casa Cunhadora de Vila Rica foi fundamental para:
Regularizar o comércio local, fornecendo moeda corrente para transações.
Controlar a arrecadação do quinto, garantindo receita para a metrópole.
Coibir a circulação clandestina de ouro em pó, prática muito comum na região mineradora.
A instalação da casa favoreceu:
Crescimento urbano de Vila Rica, consolidando-a como centro administrativo, fiscal e comercial.
Atração de profissionais especializados, como ensaiadores, ourives e fiscais régios.
Com a decadência gradual da mineração no final do século XVIII e a decisão da Coroa de centralizar as operações de cunhagem nas casas do Rio de Janeiro e Salvador, a Casa Cunhadora de Vila Rica teve suas atividades interrompidas em 1834, após mais de um século de funcionamento.
As moedas cunhadas em Vila Rica são hoje raríssimas e extremamente valorizadas por colecionadores e instituições numismáticas, pela:
Qualidade do ouro utilizado.
Beleza e sofisticação das gravuras.
Importância histórica para a história monetária brasileira.
O prédio histórico onde funcionou a Casa Cunhadora ainda existe e integra o patrimônio histórico de Ouro Preto, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.
A Casa Cunhadora de Vila Rica teve papel estratégico na organização econômica e monetária do Brasil colonial, sendo um dos mais relevantes marcos da política fiscal e financeira portuguesa nas Américas. Seu legado permanece vivo, tanto na história quanto nas raras moedas que resistiram ao tempo e hoje são tesouros do patrimônio numismático nacional.
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