Em mais uma edição da série de entrevistas promovida pela Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Leandro Guimarães, renomado numismata, pesquisador e curador de coleções numismáticas. A entrevista, realizada como parte das atividades de divulgação da sociedade, explorou a trajetória de Leandro, suas contribuições para a numismática brasileira e a importância de moedas e medalhas como testemunhos históricos.
Leandro Guimarães começou sua jornada na numismática na década de 1990, quando, ainda estudante de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro, descobriu o fascínio pelas moedas durante um projeto de pesquisa sobre a economia colonial brasileira. Inicialmente atraído pelas narrativas econômicas, ele logo percebeu que as moedas eram mais do que meios de troca: eram objetos carregados de simbolismo, arte e política. Sob a mentoria de um professor especializado em história monetária, Leandro mergulhou no estudo de coleções públicas e privadas, desenvolvendo uma paixão que o acompanha há mais de três décadas.
Atualmente, Leandro atua como consultor de acervos numismáticos em museus e coleções particulares, além de ser colaborador ativo da Sociedade Numismática Brasileira. Ele destacou a importância de catalogar e preservar coleções para garantir que as futuras gerações tenham acesso a esses registros históricos. Um de seus projetos recentes envolveu a catalogação de uma coleção de moedas coloniais brasileiras, doadas a um museu regional em Minas Gerais. O trabalho, que incluiu a identificação de peças raras do período do ciclo do ouro, revelou detalhes sobre as técnicas de cunhagem e os contextos socioeconômicos da época.
Durante a entrevista, Leandro explicou que a numismática vai além do estudo técnico de moedas. Cada peça conta uma história, desde o desenho escolhido pelo governo até os materiais utilizados em sua fabricação. Ele citou como exemplo as moedas de prata do reinado de Dom Pedro II, que refletiam a estabilidade econômica do Segundo Reinado, contrastando com as moedas de cobre do período colonial, marcadas pela escassez de recursos. Para Leandro, essas peças são documentos históricos que complementam os registros escritos, oferecendo uma perspectiva única sobre a sociedade que as produziu.
A conservação das moedas é outra área de expertise de Leandro. Ele enfatizou a diferença entre conservação e restauração, destacando que a primeira busca preservar a integridade da peça, mantendo características como a pátina, que protege metais como a prata contra a corrosão. A restauração, por outro lado, é evitada, pois pode comprometer a autenticidade do objeto. Leandro também compartilhou dicas práticas para colecionadores, como o uso de luvas de algodão ao manusear moedas e o armazenamento em cápsulas de acrílico para evitar danos causados por umidade ou poeira.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Leandro aprendeu na prática, complementando sua formação com leituras de catálogos clássicos, como os de Arnaldo Russo e os internacionais da Krause Publications. Ele também utiliza ferramentas digitais para pesquisas, mas mantém o hábito de consultar edições impressas, que considera indispensáveis para a análise detalhada. Para ele, o contato físico com a moeda, mesmo que protegido por luvas, é insubstituível, pois permite observar detalhes que escapam às imagens digitais, como texturas e marcas de cunhagem.
Leandro é um defensor da numismática como ferramenta educativa. Ele colabora com projetos que levam o estudo de moedas às escolas, utilizando réplicas para ensinar crianças sobre a história econômica e cultural do Brasil. Esses projetos, segundo ele, despertam curiosidade e incentivam os jovens a enxergar as moedas como objetos de aprendizado, não apenas como dinheiro. Ele também destacou o papel das exposições numismáticas em museus, que contextualizam as peças por meio de painéis informativos e narrativas visuais, tornando a história acessível a públicos diversos.
Como pesquisador, Leandro publicou artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus trabalhos mais recentes analisou as medalhas comemorativas do centenário da Independência do Brasil, em 1922, revelando como elas foram usadas para promover a identidade nacional. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará um estudo sobre a evolução das técnicas de cunhagem no Brasil.
Apesar de sua dedicação à numismática, Leandro não mantém uma coleção pessoal, preferindo concentrar seus esforços na preservação de acervos públicos e privados. Para ele, o trabalho com coleções institucionais é gratificante o suficiente, pois permite democratizar o acesso ao conhecimento. Ele também elogiou iniciativas como os tours virtuais de museus, que ampliam a visibilidade das coleções numismáticas, especialmente em tempos de restrições impostas pela pandemia.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a importância de figuras como Leandro, que combinam paixão e rigor acadêmico para preservar o patrimônio numismático do país. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Leandro Guimarães é um convite a explorar as histórias escondidas em cada moeda, transformando o ato de colecionar em uma celebração da memória coletiva brasileira.
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