Em mais uma edição da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Danilo Arnaldo Briskievicz, renomado numismata, historiador e curador de acervos numismáticos. A entrevista, parte das iniciativas de promoção do colecionismo e da pesquisa, explorou a trajetória de Danilo, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como documentos históricos que narram a evolução cultural e econômica do país.
Danilo Arnaldo Briskievicz iniciou sua jornada na numismática na década de 1980, enquanto cursava História na Universidade de São Paulo. Sua paixão pelas moedas surgiu durante um projeto de pesquisa sobre o período republicano brasileiro, quando se deparou com uma coleção de moedas comemorativas do início do século XX. Fascinado pela riqueza de detalhes e pelo simbolismo presente em cada peça, Danilo decidiu dedicar-se ao estudo da numismática, sob a orientação de professores especializados em história econômica. Desde então, ele tem se destacado como um dos principais nomes do campo no Brasil.
Atualmente, Danilo atua como consultor de museus e colecionadores privados, além de ser um colaborador ativo da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos mais recentes envolveu a curadoria de uma exposição sobre moedas do Primeiro Reinado, realizada em um museu no Rio de Janeiro. A exposição destacou peças raras, como as moedas de ouro cunhadas durante o reinado de Dom Pedro I, que refletem o esforço do jovem Império do Brasil em afirmar sua soberania. O trabalho de Danilo incluiu a catalogação detalhada dessas peças, com análises de suas características técnicas e contextos históricos.
Durante a entrevista, Danilo enfatizou que a numismática é uma disciplina interdisciplinar, que combina história, arte e economia. Ele explicou que cada moeda é um artefato cuidadosamente projetado, com escolhas de design que refletem os valores e as prioridades de uma época. Como exemplo, citou as moedas do Plano Real, introduzidas em 1994, cujos desenhos celebravam a fauna brasileira e promoviam a identidade nacional em um momento de estabilização econômica. Para Danilo, essas peças são fontes primárias que complementam os arquivos escritos, oferecendo insights sobre a sociedade que as produziu.
A preservação das moedas é uma das prioridades de Danilo. Ele destacou a importância de técnicas de conservação que mantenham a integridade das peças, como a preservação da pátina em moedas de prata, que atua como uma barreira natural contra a corrosão. Diferentemente da restauração, que pode alterar a autenticidade do objeto, a conservação foca em proteger a peça sem intervenções invasivas. Danilo compartilhou recomendações para colecionadores, como o uso de luvas de algodão ao manusear moedas e o armazenamento em envelopes de polipropileno, que evitam danos causados por umidade ou contato com substâncias corrosivas.
Embora a numismática não seja formalmente ensinada nas universidades brasileiras, Danilo desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas e colaborações com outros especialistas. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, combinando consultas em edições impressas e digitais. Apesar de valorizar as ferramentas digitais, Danilo acredita que o exame físico das moedas, com instrumentos como lupas e paquímetros, é essencial para captar detalhes como marcas de cunhagem ou desgastes que revelam sua circulação.
Danilo também é um entusiasta do potencial educativo da numismática. Ele participa de projetos que levam o estudo de moedas a escolas, utilizando réplicas para ensinar estudantes sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas, segundo ele, despertam a curiosidade dos jovens e mostram que as moedas são mais do que dinheiro: são objetos que contam histórias. Ele também destacou a importância das exposições numismáticas, que contextualizam as peças por meio de narrativas visuais e textos informativos, tornando o conhecimento acessível a públicos variados.
Como pesquisador, Danilo publicou diversos artigos em revistas especializadas, incluindo contribuições para a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e para os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos mais recentes analisou as medalhas do sesquicentenário da Independência, em 1972, explorando como elas refletiam o discurso oficial do regime militar. Ele também está envolvido na preparação do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre a influência das casas da moeda coloniais na formação do sistema monetário brasileiro.
Apesar de sua dedicação à numismática, Danilo não possui uma coleção pessoal, optando por focar na preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece a preservação do patrimônio cultural. Danilo elogiou iniciativas modernas, como os tours virtuais de museus, que ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, especialmente durante a pandemia, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorem acervos sem sair de casa.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de profissionais como Danilo, que unem paixão e rigor técnico para preservar a história monetária do Brasil. Para os amantes da numismática, a trajetória de Danilo Arnaldo Briskievicz é uma inspiração para enxergar nas moedas não apenas objetos de coleção, mas janelas para o passado, capazes de conectar gerações através de suas histórias gravadas em metal.
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