Como parte da série de entrevistas promovida pela Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, entrevistou Gabriel Abdala, destacado numismata, educador e pesquisador. A conversa, que integrou as iniciativas de promoção do colecionismo e da pesquisa, abordou a trajetória de Gabriel, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como instrumentos de educação e preservação da história.
Gabriel Abdala descobriu a numismática na década de 1990, enquanto cursava Pedagogia na Universidade Federal de Minas Gerais. Seu interesse surgiu ao analisar moedas brasileiras em um projeto sobre a história da educação, percebendo que esses objetos carregavam narrativas sobre a identidade nacional e a economia. Orientado por um professor de história econômica, Gabriel começou a estudar coleções numismáticas, transformando sua curiosidade inicial em uma carreira dedicada à pesquisa e à divulgação do colecionismo. Hoje, ele é reconhecido por seu trabalho em museus, escolas e eventos numismáticos.
Atualmente, Gabriel atua como curador de exposições numismáticas e consultor de acervos em instituições culturais, além de ser um colaborador frequente da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos mais notáveis foi a organização de uma exposição itinerante sobre o Plano Real, que percorreu escolas e museus regionais, destacando moedas e cédulas que marcaram a estabilização econômica do Brasil em 1994. O projeto incluiu a catalogação de peças raras e a criação de materiais educativos que contextualizavam o impacto do Real na sociedade brasileira.
Durante a entrevista, Gabriel destacou que a numismática é uma ponte entre o passado e o presente, conectando história, arte e cidadania. Ele explicou que cada moeda reflete as intenções de quem a produziu, desde os símbolos escolhidos até os materiais utilizados. Como exemplo, mencionou as moedas de níquel do período republicano, que exibiam figuras como Tiradentes e Deodoro da Fonseca, reforçando a construção de uma identidade nacional pós-monarquia. Para Gabriel, essas peças são fontes históricas que enriquecem o entendimento de períodos específicos, complementando documentos textuais.
A conservação de moedas é uma das paixões de Gabriel. Ele enfatizou a importância de práticas que preservem a autenticidade das peças, como manter a pátina em moedas de prata, que protege contra a corrosão. Diferentemente da restauração, que pode comprometer o valor histórico, a conservação foca em cuidados mínimos, como limpeza superficial apenas para fins de exposição ou estudo. Gabriel ofereceu conselhos aos colecionadores, recomendando o uso de luvas de algodão e cápsulas de acrílico para proteger as moedas de danos ambientais, como umidade ou poeira.
Embora a numismática não seja amplamente integrada aos currículos universitários brasileiros, Gabriel desenvolveu seu conhecimento por meio de estudos práticos e colaborações com outros numismatas. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, combinando versões impressas e digitais. Apesar de valorizar a praticidade das ferramentas digitais, ele acredita que o manuseio físico das moedas, com instrumentos como lupas e paquímetros, revela detalhes únicos, como marcas de cunhagem que indicam sua origem e circulação.
Gabriel é um defensor fervoroso da numismática como ferramenta pedagógica. Ele coordena projetos que introduzem o estudo de moedas nas escolas, utilizando réplicas para ensinar crianças sobre a história econômica e cultural do Brasil. Esses projetos incentivam os alunos a fazer perguntas e a enxergar as moedas como objetos narrativos, não apenas como meio de troca. Ele também destacou o papel das exposições numismáticas em espaços públicos, que, por meio de painéis informativos e narrativas visuais, tornam a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisador, Gabriel publicou artigos em periódicos especializados, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e as publicações da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus trabalhos recentes analisou as medalhas comemorativas dos 400 anos da fundação de Belém, em 2016, explorando como elas refletiam a valorização da cultura amazônica. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará um estudo sobre a evolução das moedas comemorativas brasileiras desde a Proclamação da República.
Apesar de sua dedicação, Gabriel não mantém uma coleção pessoal, preferindo contribuir para a preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas promove o acesso democrático ao conhecimento e fortalece a memória cultural. Gabriel elogiou iniciativas como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram o alcance das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos digitalmente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em fomentar o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a importância de figuras como Gabriel, que combinam paixão, expertise e compromisso educacional para preservar o patrimônio monetário do Brasil. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Gabriel Abdala é um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da identidade brasileira.
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