Em mais uma edição da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Gabriel Amaral, renomado numismata, restaurador e pesquisador. A entrevista, parte das iniciativas de promoção do colecionismo e da pesquisa, explorou a trajetória de Gabriel, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como testemunhos materiais da história, capazes de revelar aspectos culturais, econômicos e políticos.
Gabriel Amaral entrou no universo da numismática na década de 2000, enquanto cursava Arqueologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sua paixão pelas moedas surgiu durante uma escavação arqueológica, onde encontrou uma moeda de bronze do período colonial brasileiro. Intrigado pelo simbolismo e pela história gravada naquele pequeno disco metálico, Gabriel começou a estudar coleções numismáticas, guiado por mentores especializados em história monetária. Desde então, ele se consolidou como um dos principais nomes da numismática no Brasil, com foco em restauração e análise técnica de moedas.
Atualmente, Gabriel atua como restaurador de acervos numismáticos em museus e coleções privadas, além de ser um colaborador ativo da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos recentes foi a restauração de uma coleção de moedas do Segundo Reinado, pertencente a um museu em São Paulo. O trabalho envolveu a recuperação de peças danificadas por corrosão, utilizando técnicas minimamente invasivas para preservar sua autenticidade. Gabriel também catalogou as moedas, fornecendo informações detalhadas sobre suas origens, técnicas de cunhagem e contextos históricos.
Durante a entrevista, Gabriel destacou que a numismática é uma ciência que transcende o estudo de objetos monetários, funcionando como uma janela para o passado. Ele explicou que cada moeda é um documento histórico, projetado com intenções específicas, desde os símbolos escolhidos até os metais utilizados. Como exemplo, citou as moedas de ouro do período do Ciclo do Ouro, que exibiam a efígie de reis portugueses e simbolizavam o poder colonial, contrastando com as moedas de cobre do mesmo período, usadas em transações locais. Para Gabriel, essas peças oferecem pistas valiosas sobre a economia e a sociedade da época.
A restauração e conservação de moedas são áreas centrais no trabalho de Gabriel. Ele enfatizou a distinção entre conservação, que preserva a integridade da peça sem alterações significativas, e restauração, que envolve intervenções cuidadosas para recuperar peças danificadas. Gabriel utiliza técnicas avançadas, como limpeza eletroquímica para remover corrosão sem comprometer a pátina, que protege metais como a prata. Para colecionadores, ele recomendou o uso de luvas de nitrilo ao manusear moedas e o armazenamento em bandejas de veludo com proteção contra umidade, para evitar deterioração.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Gabriel desenvolveu sua expertise por meio de cursos especializados em restauração e estudos autodidatas. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, alternando entre edições impressas e digitais. Para Gabriel, o exame físico das moedas, com ferramentas como microscópios e balanças de precisão, é essencial para identificar detalhes como microgravuras ou desgastes que indicam sua circulação.
Gabriel também é um defensor da numismática como ferramenta de pesquisa interdisciplinar. Ele colabora com projetos que integram moedas a estudos arqueológicos, históricos e antropológicos, demonstrando como esses objetos refletem dinâmicas sociais. Um de seus trabalhos recentes analisou moedas do período da Proclamação da República, revelando como os desenhos republicanos buscavam legitimar o novo regime. Ele também participa de exposições numismáticas, que, por meio de narrativas visuais e textos informativos, tornam o conhecimento acessível a públicos variados.
Como pesquisador, Gabriel publicou artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Seu estudo mais recente explorou as medalhas comemorativas do bicentenário da Independência, em 2022, analisando como elas refletiam a diversidade cultural brasileira. Gabriel também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre as técnicas de cunhagem no Brasil colonial.
Apesar de sua dedicação à numismática, Gabriel não mantém uma coleção pessoal, preferindo concentrar seus esforços na preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas promove o acesso universal ao patrimônio cultural e fortalece a memória coletiva. Gabriel elogiou iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas do mundo inteiro explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de profissionais como Gabriel, que combinam paixão, precisão técnica e compromisso com a preservação histórica. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Gabriel Amaral é um convite a enxergar nas moedas não apenas objetos de coleção, mas artefatos que conectam o passado ao presente, preservando a história para as futuras gerações.
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