Na série de entrevistas promovida pela Sociedade Numismática Brasileira (SNB), tivemos a honra de receber o professor Marco Stanojev Pereira, um nome que une ciência, história e paixão pelo colecionismo. Pesquisador em física nuclear, professor de química e entusiasta da história das civilizações, Marco nos convida a enxergar a numismática como muito mais do que um hobby: como uma ponte viva com o passado.
A paixão começou ainda na infância, quando Marco, aos 11 anos, herdou do avô uma caixa metálica recheada de moedas e cédulas — resquícios de um antigo comércio de bairro, mantido por décadas.
“Foi o que restou do tempo dele no comércio. Peguei aquela caixa como quem encontra um tesouro.”
Naquela caixa, estavam coleções completas de personalidades históricas, moedas do centenário da independência, peças de bronze e prata, e uma vasta série de cédulas do mil-réis. Era o início de uma jornada de descobertas, que só cresceria com o tempo.
Além do Brasil, Marco teve a oportunidade de viver e lecionar em Portugal. Lá, conheceu uma cultura profundamente consciente da importância histórica das moedas. Em aldeias e feiras, encontrou verdadeiros tesouros da numismática europeia — incluindo peças romanas.
Uma de suas relíquias favoritas é uma moeda de prata datada de 163 a.C., com imagens da família Coelis, e outra do imperador Constantino I, retratado em posição de vitória.
“As moedas falam. Elas contam a história de onde vieram, por onde passaram. São testemunhas do tempo.”
Professor por vocação, Marco encontrou na numismática uma poderosa ferramenta pedagógica. Em suas aulas sobre história das religiões e civilizações antigas, leva moedas autênticas para os alunos tocarem a história.
“O brilho nos olhos dos alunos ao segurar uma moeda de 160 a.C. é impagável. A história se torna real.”
Essa prática inspira uma nova geração de estudantes a se conectar com o passado de maneira concreta e sensorial.
Além de professor, Marco é pesquisador no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), onde aplica tomografia por nêutrons para estudar moedas. Esse método, semelhante ao raio-X, permite investigar a estrutura interna das peças sem danificá-las.
No momento, ele estuda moedas de alumínio brasileiras dos anos 50 e 60, inclusive algumas herdadas do avô. O objetivo é identificar detalhes invisíveis a olho nu e descobrir mais sobre os processos de cunhagem.
“É a ciência a serviço da preservação histórica.”
Entre tantas raridades, há uma que tem lugar especial: uma simples moeda de 40 réis, de bronze, de 1869 — ano exato que marca o centenário de seu nascimento. O motivo do apego? A figura de Dom Pedro II, seu herói pessoal.
“Ele era um estudioso, um estadista, um homem que queria ser professor. Uma inspiração.”
Marco relata sua visita recente ao Museu do Ipiranga, em São Paulo, elogiando o restauro, mas lamentando a pouca presença da numismática nas exposições. Ele defende que museus reservem mais espaço para moedas, medalhas e cédulas, dada sua importância histórica.
“São Paulo teve casas de fundição, participou da história monetária nacional. Uma sala dedicada à numismática seria essencial.”
O professor encerra com um apelo sincero: que as pessoas busquem em suas casas, nos potes esquecidos e nas caixas de recordações, possíveis tesouros históricos. Muitas vezes, cédulas e moedas guardadas por avós podem ser valiosas não só financeiramente, mas culturalmente.
“A moeda é a figurinha do nosso álbum histórico. Resgatar essas peças é preservar a memória.”
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