A série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira (SNB) tem nos apresentado personalidades que fazem da numismática uma ponte entre o passado e o presente. Entre elas, está Felipe Rocha, carioca, professor, guia de turismo e um dos maiores divulgadores da numismática no estado do Rio de Janeiro. Com uma trajetória marcada por afeto, pesquisa e ação, Felipe mostra que colecionar moedas é muito mais do que acumular objetos — é construir conhecimento, afetos e cidadania.
A paixão de Felipe pela numismática teve início aos 12 anos, com um presente da avó portuguesa: uma moeda de 20 réis de 1869 com o busto de Dom Pedro II.
“Minha avó disse: ‘essa moeda não circula mais’. Aquilo ficou na minha cabeça. Fui pesquisar, entender. E descobri o colecionismo.”
Esse gesto simples despertou nele o desejo de conhecer a história por trás dos objetos — e, com o tempo, se transformou em uma paixão duradoura e um propósito de vida.
Felipe começou como colecionador de moedas brasileiras e estrangeiras, e hoje mantém uma vasta biblioteca numismática com mais de 180 livros, além de coleções temáticas de fichas, cédulas e medalhas. Ele também atua como comerciante especializado, mas nunca deixou o olhar de pesquisador de lado.
“Tenho coleções com foco — como as do Terceiro Sistema — e me interesso muito por variantes. Gosto de estudar e entender cada detalhe.”
Além disso, é um defensor do uso de livros na formação do colecionador. Seus títulos favoritos incluem obras de Kurth Prober, Cavalcante, e livros raros de referência sobre o Brasil Império.
Em 2024, Felipe organizará 16 eventos numismáticos em diferentes cidades do estado, sempre com o objetivo de descentralizar o colecionismo e atrair novos públicos. Ele articula ações em locais como Teresópolis, Itaperuna, Paraty, Penedo, Santa Maria Madalena e outros.
“A ideia é unir numismática com cultura local, turismo, história e educação. Queremos sair dos grandes centros.”
Os eventos organizados por Felipe integram apresentações culturais, feiras de antiguidades, palestras e exposições, com participação ativa de escolas públicas e privadas.
Um dos projetos mais emocionantes conduzidos por Felipe é o trabalho com crianças e adolescentes em escolas e shoppings. Ele organiza exposições, palestras e encontros educativos com jovens, promovendo contato direto com moedas, cédulas e documentos históricos.
“Se a criança não tocar em uma moeda, não ouvir sobre sua história, como ela vai se interessar por isso no futuro?”
As atividades incluem oficinas, emissão de certificados e até “moedas fantasia” para lembrar o evento — plantando sementes para formar os numismatas de amanhã.
Felipe compartilha histórias de amizade e solidariedade entre colecionadores, como o gesto generoso de Adelane durante um evento em Verona, quando emprestou dinheiro para que ele pudesse aproveitar uma oportunidade única.
“Mesmo sendo concorrente, ele me ajudou. A numismática é uma irmandade.”
Com experiência como secretário de turismo e professor universitário, Felipe defende que a numismática não pode ser reduzida à compra e venda. Para ele, ela envolve história, cultura, pertencimento e comunidade.
“A numismática precisa ser vivida, compartilhada, ensinada. O valor de uma moeda está também na história que ela carrega e no que ela representa para quem a guarda.”
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