Em mais uma edição da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Alexandre Costa e Edil Gomes, dois renomados numismatas e pesquisadores que têm enriquecido o estudo e a divulgação da numismática no Brasil. A entrevista, parte das iniciativas de promoção do colecionismo e da pesquisa, abordou as trajetórias dos entrevistados, seus projetos colaborativos e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do país.
Alexandre Costa descobriu a numismática na década de 1980, enquanto cursava História na Universidade Federal da Bahia. Seu interesse surgiu ao analisar moedas coloniais em um projeto sobre o comércio atlântico, percebendo que esses objetos eram mais do que meios de troca: eram testemunhos de dinâmicas políticas e sociais. Edil Gomes, por sua vez, entrou no universo numismático na década de 1990, durante seu curso de Arqueologia na Universidade de São Paulo, quando encontrou moedas do período imperial em uma escavação. Ambos se conheceram em um congresso da Sociedade Numismática Brasileira, onde iniciaram uma parceria que resultou em diversos projetos de pesquisa e divulgação.
Atualmente, Alexandre e Edil colaboram em iniciativas que promovem a numismática como ferramenta de educação e preservação histórica. Um de seus projetos mais destacados é a criação de um catálogo digital de moedas do Primeiro Reinado, disponível no site da Sociedade Numismática Brasileira. O catálogo detalha peças raras, como as moedas de prata cunhadas em 1822, e inclui ensaios históricos que contextualizam o papel dessas moedas na consolidação da independência brasileira. O projeto, que combina pesquisa arquivística e análise técnica, tem atraído a atenção de colecionadores e pesquisadores nacionais e internacionais.
Durante a entrevista, Alexandre destacou que a numismática é uma disciplina interdisciplinar, conectando história, arte e economia. Ele citou as moedas do Plano Cruzado, introduzidas na década de 1980, como exemplo de peças que refletem tentativas de controle inflacionário, com desenhos que promoviam a confiança na economia. Edil complementou, enfatizando que cada moeda é um artefato deliberadamente projetado, com símbolos que comunicam mensagens políticas. Ele mencionou as moedas de ouro do reinado de Dom João VI, que reforçavam a legitimidade da coroa portuguesa no Brasil, como um caso emblemático.
A conservação de moedas é uma prioridade compartilhada por ambos. Alexandre explicou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que atua como proteção natural contra a corrosão, enquanto Edil destacou a necessidade de evitar restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Eles recomendam aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de danos causados por umidade ou manipulação inadequada. Para análises técnicas, utilizam ferramentas como balanças de precisão e microscópios, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Alexandre e Edil desenvolveram suas expertises por meio de estudos autodidatas e colaborações com outros especialistas. Eles utilizam catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, alternando entre edições impressas e digitais. Para ambos, o exame físico das moedas é insubstituível, pois permite identificar nuances que escapam às imagens digitais, como texturas e microgravuras.
Alexandre e Edil são defensores da numismática como ferramenta educativa. Eles coordenam oficinas em escolas, utilizando réplicas de moedas para ensinar estudantes sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas incentivam os jovens a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Eles também participam de exposições numismáticas, que combinam painéis informativos e narrativas visuais para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisadores, Alexandre e Edil publicaram artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos colaborativos analisou as medalhas comemorativas do centenário da Proclamação da República, em 1989, explorando como elas refletiam o contexto político da redemocratização. Eles também estão envolvidos na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentarão uma pesquisa conjunta sobre a influência das casas da moeda coloniais na formação do sistema monetário brasileiro.
Apesar de sua dedicação, nenhum dos dois mantém coleções pessoais, preferindo focar na preservação de acervos institucionais. Eles acreditam que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Alexandre e Edil elogiaram iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em fomentar o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância da parceria entre Alexandre e Edil, que combina rigor acadêmico, paixão e compromisso com a divulgação da numismática. Para os entusiastas do colecionismo, as trajetórias de Alexandre Costa e Edil Gomes são um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando a numismática em uma prática de preservação e celebração da identidade brasileira.
Comentário