Em mais uma edição da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Carlos Eduardo da Costa Campos, renomado numismata, historiador e pesquisador. A entrevista, parte das iniciativas de promoção do colecionismo e da pesquisa, explorou a trajetória de Carlos Eduardo, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como documentos históricos que revelam aspectos culturais, econômicos e políticos do passado.
Carlos Eduardo da Costa Campos descobriu a numismática na década de 1980, enquanto cursava História na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua paixão pelas moedas surgiu durante uma pesquisa sobre a economia do Segundo Reinado, quando teve acesso a uma coleção de moedas de prata de Dom Pedro II. Fascinado pelo simbolismo e pela precisão técnica das peças, ele decidiu aprofundar-se no estudo da numismática, sob a orientação de professores especializados em história monetária. Desde então, Carlos Eduardo tornou-se uma referência no campo, combinando rigor acadêmico e entusiasmo pelo colecionismo.
Atualmente, Carlos Eduardo atua como consultor de acervos numismáticos em museus e instituições culturais, além de ser um colaborador ativo da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos mais recentes foi a curadoria de uma exposição sobre moedas do período republicano, realizada em um museu no Rio de Janeiro. A exposição destacou peças raras, como as moedas de níquel da Proclamação da República, e incluiu painéis que contextualizavam o papel dessas moedas na construção da identidade nacional. O trabalho de Carlos Eduardo envolveu a catalogação detalhada das peças e a redação de ensaios históricos que acompanharam a mostra.
Durante a entrevista, Carlos Eduardo destacou que a numismática é uma disciplina que transcende o estudo de objetos monetários, funcionando como uma ponte para o entendimento do passado. Ele explicou que cada moeda é um artefato cuidadosamente projetado, com escolhas de design que refletem os valores de uma época. Como exemplo, mencionou as moedas do Plano Real, lançadas em 1994, cujos desenhos da fauna brasileira promoviam a biodiversidade e a estabilidade econômica. Para Carlos Eduardo, essas peças são fontes primárias que complementam arquivos textuais, oferecendo insights únicos sobre a sociedade que as produziu.
A preservação de moedas é uma das prioridades de Carlos Eduardo. Ele enfatizou a importância de técnicas de conservação que mantenham a integridade das peças, como a preservação da pátina em moedas de prata, que protege contra a corrosão. Ele evita restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade, e recomenda aos colecionadores o uso de luvas de algodão e cápsulas de acrílico para proteger as moedas de umidade e poeira. Para análises técnicas, Carlos Eduardo utiliza ferramentas como lupas, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente integrada aos currículos universitários brasileiros, Carlos Eduardo desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas e participação em congressos numismáticos. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, combinando consultas em edições impressas e digitais. Para ele, o exame físico das moedas é essencial, pois permite observar nuances, como microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Carlos Eduardo é um defensor da numismática como ferramenta educativa. Ele colabora com projetos que levam o estudo de moedas às escolas, utilizando réplicas para ensinar estudantes sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas, segundo ele, despertam curiosidade e incentivam os jovens a enxergar as moedas como objetos narrativos. Ele também participa de exposições numismáticas, que combinam narrativas visuais e textos informativos para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisador, Carlos Eduardo publicou artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos recentes analisou as medalhas comemorativas do sesquicentenário da Independência, em 1972, explorando como elas refletiam o discurso oficial do regime militar. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre a evolução das técnicas de cunhagem no Brasil imperial.
Apesar de sua dedicação à numismática, Carlos Eduardo não mantém uma coleção pessoal, preferindo concentrar seus esforços na preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Carlos Eduardo elogiou iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de profissionais como Carlos Eduardo, que combinam paixão, rigor técnico e compromisso com a preservação histórica. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Carlos Eduardo da Costa Campos é um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma celebração da memória coletiva brasileira.
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