Entrevistador: Oswaldo Rodrigues | Entrevistado: Tonian Soeiro
Em mais uma transmissão promovida pela Sociedade Numismática Brasileira (SNB), Oswaldo Rodrigues conversou com Tonian Soeiro — um dos numismatas veteranos mais respeitados da comunidade. A entrevista resgatou histórias pessoais, reflexões sobre a importância cultural da numismática e a contribuição das moedas antigas na preservação da memória histórica e identidade dos povos.
Tonian iniciou seu interesse pela numismática ainda na infância. Aos 12 anos, fez sua primeira visita à tradicional Praça da República, em São Paulo, onde foi acolhido pelos colecionadores mais experientes da época. Influenciado por vizinhos e amigos ligados ao meio acadêmico e numismático, cultivou o hábito de estudar a história por meio das moedas, com destaque para as peças portuguesas e romanas.
Sua coleção ultrapassou o aspecto patrimonial, sendo orientada sobretudo pelo valor cultural e histórico de cada peça.
Questionado sobre sua paixão pelas moedas romanas, Soeiro destacou que as peças do Império Romano carregam mais que valor econômico. Para ele, as moedas antigas são documentos históricos que revelam práticas políticas, religiosas e sociais da época. Observou como os romanos usavam suas moedas para difundir suas crenças, legitimar conquistas e propagar a imagem dos imperadores.
Cada moeda guarda, segundo Tonian, não apenas o símbolo de poder, mas também registros de regiões conquistadas, o pagamento de mercenários e soldados e, sobretudo, a imposição cultural sobre os povos dominados.
Com dificuldades para classificar e catalogar suas moedas romanas, Soeiro percebeu a ausência de uma obra em português que reunisse de forma didática e enciclopédica as informações sobre moedas de diferentes períodos de Roma. Assim, dedicou 18 anos à criação de “Uma História em Moedas”, obra que passou a ser referência no meio. O livro foi muito bem aceito na Europa, em instituições como o Museu Britânico e o Louvre, reforçando seu caráter científico e cultural.
Atualmente, a obra é comercializada diretamente com o autor, no Masp aos domingos ou por contato via e-mail.
Tonian relatou suas experiências em museus especializados, como o Museu Britânico, Museu de Berlim, Louvre e instituições na Espanha, Hungria e Portugal. Em todos os locais foi muito bem recebido e se impressionou com as vastas reservas técnicas, reconhecendo a humildade necessária ao perceber que há sempre mais a aprender.
Destacou também a importância dos museus como espaços de formação para estudantes e colecionadores iniciantes.
Para Tonian, a numismática vai além do colecionismo: é ferramenta de conhecimento histórico e sociológico. Ele compartilhou a história de como uma moeda de dois cruzeiros de 1950 o ajudou em uma prova escolar de geografia, evidenciando como objetos simples podem carregar informações valiosas sobre a cultura e o território.
Soeiro defendeu que a numismática precisa manter seu compromisso cultural, fugindo de interesses puramente mercadológicos.
Ao ser questionado sobre o crescimento da participação feminina, Soeiro comemorou o aumento do número de mulheres numismatas e sugeriu que novas coleções foquem também nas moedas que homenageiam figuras femininas da história romana, como Faustina, Salonina e Otacília Severa.
Para os iniciantes, recomendou foco, estudo e a busca por associações numismáticas, pois além de ampliar o conhecimento, proporcionam ricas oportunidades de convivência e aprendizado com outros colecionadores.
A entrevista com Tonian Soeiro revelou não apenas a trajetória de um numismata exemplar, mas também o papel da numismática como ferramenta de registro histórico, expressão cultural e ponto de encontro entre gerações e nações.
Reforçando seu compromisso com a preservação da memória e o diálogo cultural, Soeiro encerrou convidando a todos para conhecerem museus, participarem de feiras e associações, e para sempre colecionarem moedas com propósito e paixão.
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