A Sociedade Numismática Brasileira (SNB) trouxe, em mais uma de suas entrevistas inspiradoras, o historiador e escritor Paulo Rezzutti para uma conversa fascinante sobre a interseção entre numismática e história. Conduzida por Osvaldo Rodrigues, diretor social e de divulgação da SNB, a entrevista revelou como as moedas, cédulas e medalhas podem ser muito mais do que objetos de coleção: são portas para a compreensão de contextos históricos, políticos e afetivos.
Paulo Rezzutti, conhecido por suas biografias históricas, como as de Dom Pedro I, Dom Pedro II e Marquesa de Santos, compartilhou sua trajetória com a numismática, que começou na adolescência, por volta dos 14 anos. Seu interesse inicial pela história do Império Russo o levou a buscar livros e, consequentemente, a se encantar pelas moedas e cédulas russas. Em 1989, aos 16 anos, Rezzutti teve seu primeiro contato com a SNB e com o colecionador Wilson Lopes, com quem trabalhou como auxiliar de numismática. Essa experiência foi marcante, pois, além de aprender sobre cunhagem, faces invertidas e notas raras, ele mergulhou no universo da materialidade histórica.
Durante a entrevista, Rezzutti exibiu peças de sua coleção, como notas russas de 500 rublos da época da Guerra Civil Russa, que revelam histórias de economia e política, como a manipulação de moedas para financiar revoluções. Ele também mostrou uma medalha da Polícia Militar de São Paulo em homenagem ao Brigadeiro Tobias de Aguiar, figura central em sua biografia da Marquesa de Santos, destacando o valor afetivo de certos objetos.
Um dos pontos altos da conversa foi a reflexão sobre como a numismática transcende o simples ato de colecionar. Para Rezzutti, cada moeda ou cédula carrega uma narrativa. Ele exemplificou com a Ordem da Rosa, uma das peças mais emblemáticas do Império Brasileiro, criada por Dom Pedro I em homenagem ao seu casamento com Amélia de Leuchtenberg. A beleza e o valor histórico dessa ordem a tornam cobiçada por colecionadores internacionais, simbolizando a riqueza cultural do Brasil imperial.
Rezzutti também destacou como a numismática pode ser uma “porta de acesso” para outras áreas, como a museologia e a história interdisciplinar. Ele mencionou, por exemplo, a investigação sobre cédulas russas que o levou a biografias de revolucionários, como Victor Serge, revelando esquemas de falsificação durante a Revolução Russa. Essa conexão entre objetos materiais e contextos históricos é o que torna a numismática tão especial.
Em um momento especial do vídeo, Rezzutti apresentou um estojo com a face de Dom Pedro I, contendo uma réplica da Constituição de 1824, outorgada pelo imperador. A peça, que ele considera uma forma de numismática, reflete a importância de objetos que celebram marcos históricos, como o Bicentenário da Independência do Brasil. A entrevista reforçou como a numismática pode ajudar a contar a história do país, conectando passado e presente.
A trajetória de Rezzutti com a numismática é um convite para que novos colecionadores e curiosos percebam o potencial desses objetos. Ele enfatizou que não é necessário ter conhecimento prévio para se apaixonar pela numismática: “Ela nos ensina coisas”. Suas histórias, desde carregar sacos de moedas no Banco do Brasil até encontrar uma caixa de prata de Fabergé, mostram que a numismática é um campo vibrante, cheio de surpresas e aprendizados.
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