Entrevistador: Oswaldo Rodrigues
Entrevistada: Lorena Rosero
Publicação: NumisPlay – Sociedade Numismática Brasileira
Em uma visita guiada memorável, conduzida por Lorena Rosero, curadora e pesquisadora do Museu Numismático do Banco Central do Equador, Oswaldo Rodrigues leva o público da Sociedade Numismática Brasileira a conhecer um dos mais ricos e acessíveis museus numismáticos da América Latina. Mais que um acervo, o museu se apresenta como espaço de preservação da memória econômica e educacional, abrigando moedas, cédulas, medalhas, selos e arquivos históricos que narram, de forma didática e cronológica, a trajetória monetária do Equador — do período pré-hispânico à dolarização.
O Museu Numismático está presente fisicamente em Quito e Cuenca, com edifícios históricos localizados próximos aos centros culturais das duas cidades. O prédio de Quito, concluído em 1924, abriga a sede original do Banco Central e possui importância arquitetônica reconhecida, com premiações por sua restauração e preservação.
A versão virtual do museu é exemplar. O site oficial permite:
Tour virtual 360º pelas salas das exposições permanentes.
Acesso a publicações, catálogos e artigos técnicos.
Visualização de milhares de moedas, cédulas, medalhas e selos.
Participação em oficinas educativas virtuais, com PDFs didáticos voltados a professores e estudantes.
Um dos projetos em destaque é a "Peça do Mês", série de artigos desde 2017 com análises aprofundadas de itens numismáticos, seus contextos e significados históricos.
A exposição inicia com o período pré-monetário, destacando itens usados como instrumentos de troca, como a concha Spondylus, presente em rituais e trocas entre culturas andinas e costeiras. A sala introduz o visitante à socioeconomia indígena, valorizando a história antes da colonização.
Exibe moedas da colonização espanhola, incluindo exemplares das casas de moeda de México, Lima e Potosí. A mostra percorre a transição das macuquinas até as moedas produzidas por prensas, contextualizando acontecimentos como o escândalo da Casa de Potosí e o surgimento das colunas de Hércules com o lema “Plus Ultra”.
Apresenta a história da primeira Casa da Moeda do Equador, fundada em 1832. Destaque para a moeda “Moby Dick”, de 8 escudos, citada na obra de Herman Melville, e para peças de transição como os resselos “MQ” em moedas colombianas. A sala também aborda a moeda cunhada por Emilia Rivadeneira, uma das raras mulheres gravadoras registradas na história numismática do país.
A última sala trata da formação do Banco Central do Equador (1927) e da moeda nacional, o Sucre. Mostra a transição das cédulas dos bancos privados para emissões oficiais e acompanha a trajetória do Sucre até sua substituição pelo dólar, em 2000. Um destaque cultural é a popularização dos termos “Ayora” e “Ayorita”, apelidos dados às primeiras emissões do Banco Central, em homenagem ao presidente Isidro Ayora e sua esposa.
Além das moedas e cédulas, o museu abriga:
Coleção de selos postais com mais de 12 mil itens.
Acervo de medalhas com cerca de 1.800 peças, incluindo condecorações nacionais e estrangeiras.
Publicações técnicas e fanzines históricos, como quadrinhos sobre falsificações coloniais.
O museu desenvolve tutoriais, oficinas e material pedagógico voltados a estudantes e professores. As atividades são criadas mensalmente e incluem temas como o uso do “token de consumo” ou a história do “padroeiro da numismática”. O conteúdo pode ser baixado gratuitamente no site do museu.
A loja física oferece moedas comemorativas, medalhas, souvenirs, livros e catálogos. Uma das coleções mais procuradas é o último conjunto de moedas Sucre, emitido antes da adoção do dólar. Embora as vendas online ainda não sejam internacionais, turistas brasileiros podem adquirir os produtos durante visitas presenciais.
A visita ao Museu Numismático — presencial ou virtual — oferece uma experiência imersiva em história, economia e cultura material. O prédio, as salas temáticas, os vídeos explicativos, os recursos de realidade aumentada e a organização cronológica tornam o acervo acessível tanto para iniciantes quanto para pesquisadores.
A entrevista com Lorena Rosero revela um trabalho exemplar de curadoria e democratização do acesso ao patrimônio numismático. O museu do Banco Central do Equador é um modelo internacional de como unir história, tecnologia e educação em um espaço de memória coletiva.
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