Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, entrevistou Carlos Eduardo da Costa Campos, renomado numismata, historiador e defensor do colecionismo. A conversa, integrada às iniciativas de promoção da numismática, explorou a trajetória de Carlos Eduardo, suas contribuições para o estudo e a divulgação das moedas brasileiras, e o papel desses objetos como registros históricos que conectam o passado ao presente.
Carlos Eduardo da Costa Campos encontrou a numismática na década de 1980, enquanto cursava História na Universidade Estadual de Campinas. Seu interesse foi despertado ao estudar uma coleção de moedas do período colonial em um projeto sobre o comércio transatlântico. Fascinado pela capacidade das moedas de contar histórias através de seus desenhos e materiais, ele mergulhou no estudo da numismática, guiado por mentores especializados em história monetária. Ao longo das décadas, Carlos Eduardo tornou-se uma figura central no cenário numismático, conhecido por sua dedicação à pesquisa e à educação.
Atualmente, Carlos Eduardo atua como consultor de acervos numismáticos e palestrante em eventos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos mais recentes foi a criação de um guia digital sobre moedas do Plano Cruzado, lançado em parceria com um museu em São Paulo. O guia detalha peças que marcaram a tentativa de estabilização econômica na década de 1980, acompanhadas de ensaios que analisam o contexto político e social da época. O projeto, disponível online, tem sido amplamente utilizado por estudantes e colecionadores, reforçando o compromisso de Carlos Eduardo com a democratização do conhecimento.
Durante a entrevista, Carlos Eduardo destacou que a numismática é uma ferramenta poderosa para compreender a história. Ele explicou que cada moeda reflete as intenções de quem a produziu, desde os símbolos gravados até os metais escolhidos. Como exemplo, mencionou as moedas de ouro do Ciclo do Ouro, que exibiam a efígie de reis portugueses e simbolizavam o poder colonial, contrastando com as moedas de cobre usadas em transações locais. Para ele, essas peças são documentos históricos que oferecem perspectivas complementares aos registros escritos, revelando dinâmicas sociais e econômicas.
A conservação de moedas é uma das paixões de Carlos Eduardo. Ele enfatizou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que protege contra a corrosão, e alertou contra restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Ele recomenda aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e envelopes de polipropileno para proteger as peças de umidade e poeira. Para análises técnicas, Carlos Eduardo utiliza ferramentas como lupas, paquímetros e microscópios, que permitem identificar detalhes como marcas de cunhagem e desgastes que indicam a circulação das moedas.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Carlos Eduardo desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas e participação em congressos numismáticos. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, combinando edições impressas e digitais. Para ele, o exame físico das moedas é insubstituível, pois revela nuances, como microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Carlos Eduardo é um defensor fervoroso da numismática como ferramenta educativa. Ele coordena oficinas para estudantes, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas incentivam os jovens a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Ele também participa de exposições numismáticas, que utilizam narrativas visuais e textos informativos para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisador, Carlos Eduardo publicou artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos recentes analisou as moedas comemorativas do bicentenário da Independência, em 2022, explorando como elas refletiam a diversidade cultural brasileira. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre a influência das reformas monetárias no Brasil republicano.
Apesar de sua dedicação, Carlos Eduardo não mantém uma coleção pessoal, preferindo contribuir para a preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas promove o acesso democrático ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Carlos Eduardo elogiou iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de profissionais como Carlos Eduardo, que combinam paixão, rigor acadêmico e dedicação à educação. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Carlos Eduardo da Costa Campos é um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da memória brasileira.
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