Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Cláudio Angelini e Hilton Lúcio, dois renomados numismatas, pesquisadores e entusiastas do colecionismo. A entrevista, integrada às iniciativas de promoção da numismática, explorou as trajetórias dos entrevistados, seus projetos conjuntos e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do Brasil.
Cláudio Angelini descobriu a numismática na década de 1980, enquanto cursava História na Universidade Federal de Minas Gerais. Seu interesse surgiu ao estudar uma coleção de moedas do período republicano, que o fascinou pelo simbolismo e pela narrativa histórica gravada em cada peça. Hilton Lúcio, por sua vez, entrou no universo numismático na década de 1990, durante seu curso de Arqueologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao encontrar moedas coloniais em uma escavação. Os dois se conheceram em um evento da Sociedade Numismática Brasileira, onde iniciaram uma parceria que resultou em diversos projetos de pesquisa e divulgação.
Atualmente, Cláudio e Hilton colaboram em iniciativas que promovem a numismática como ferramenta de educação e preservação histórica. Um de seus projetos mais notáveis é a criação de um banco de dados online sobre moedas do Plano Real, hospedado no site da Sociedade Numismática Brasileira. O banco de dados detalha peças lançadas a partir de 1994, acompanhadas de análises sobre o contexto econômico e cultural da estabilização monetária. O projeto, que combina catalogação técnica e ensaios históricos, tem sido amplamente utilizado por pesquisadores, colecionadores e estudantes.
Durante a entrevista, Cláudio destacou que a numismática é uma disciplina interdisciplinar, conectando história, arte e economia. Ele citou as moedas de níquel do início da República, que exibiam figuras como Tiradentes para reforçar a identidade nacional, como exemplo de peças que refletem intenções políticas. Hilton complementou, enfatizando que cada moeda é um artefato projetado com propósito, carregando símbolos que comunicam mensagens culturais. Ele mencionou as moedas de ouro do reinado de Dom João VI, que simbolizavam a legitimidade da coroa portuguesa no Brasil, como um caso emblemático.
A conservação de moedas é uma prioridade compartilhada por ambos. Cláudio explicou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que atua como proteção natural contra a corrosão, enquanto Hilton destacou a necessidade de evitar restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Eles recomendam aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de danos causados por umidade ou manipulação inadequada. Para análises técnicas, utilizam ferramentas como microscópios, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Cláudio e Hilton desenvolveram suas expertises por meio de estudos autodidatas e colaborações com outros numismatas. Eles utilizam catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, alternando entre edições impressas e digitais. Para ambos, o exame físico das moedas é indispensável, pois permite identificar nuances, como texturas e microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Cláudio e Hilton são defensores da numismática como ferramenta pedagógica. Eles coordenam oficinas em escolas e centros culturais, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas incentivam os participantes a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Eles também participam de exposições numismáticas, que combinam painéis informativos e narrativas visuais para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisadores, Cláudio e Hilton publicaram artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos colaborativos analisou as medalhas comemorativas do bicentenário da Independência, em 2022, explorando como elas refletiam a diversidade cultural brasileira. Eles também estão envolvidos na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentarão uma pesquisa conjunta sobre a evolução das técnicas de cunhagem no Brasil imperial.
Apesar de sua dedicação, nenhum dos dois mantém coleções pessoais, preferindo focar na preservação de acervos institucionais. Eles acreditam que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Cláudio e Hilton elogiaram iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em fomentar o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância da parceria entre Cláudio e Hilton, que combina rigor acadêmico, paixão e compromisso com a divulgação. Para os entusiastas da numismática, as trajetórias de Cláudio Angelini e Hilton Lúcio são um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da identidade brasileira.
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