Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, entrevistou Hilton Lúcio, renomado numismata, arqueólogo e pesquisador. A conversa, integrada às iniciativas de promoção do colecionismo e da pesquisa, explorou a trajetória de Hilton, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como artefatos históricos que revelam narrativas culturais, econômicas e sociais do passado.
Hilton Lúcio descobriu a numismática na década de 1990, enquanto cursava Arqueologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua paixão pelas moedas surgiu durante uma escavação em um sítio colonial no interior do estado, onde encontrou uma moeda de cobre do reinado de Dom João VI. Intrigado pelo simbolismo e pela história gravada naquela peça, Hilton começou a estudar coleções numismáticas, guiado por mentores especializados em história monetária. Desde então, ele se consolidou como uma figura de destaque no campo, combinando sua formação arqueológica com a pesquisa numismática.
Atualmente, Hilton atua como consultor de acervos numismáticos em museus e colaborador ativo da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos mais recentes foi a curadoria de uma exposição virtual sobre moedas coloniais brasileiras, hospedada no site da sociedade. A exposição destacou peças raras, como moedas cunhadas na Casa da Moeda da Bahia no século XVIII, e incluiu ensaios que contextualizavam o papel dessas moedas no comércio atlântico. O projeto, que atraiu milhares de visitantes online, reforça o compromisso de Hilton com a democratização do acesso ao patrimônio numismático.
Durante a entrevista, Hilton destacou que a numismática é uma extensão natural da arqueologia, pois ambas as disciplinas buscam interpretar o passado através de objetos materiais. Ele explicou que cada moeda é um documento histórico, projetado com intenções específicas, desde os símbolos escolhidos até os metais utilizados. Como exemplo, mencionou as moedas de prata do Primeiro Reinado, que exibiam a efígie de Dom Pedro I para legitimar a independência, contrastando com as moedas de cobre do mesmo período, usadas em transações locais. Para Hilton, essas peças oferecem pistas valiosas sobre a economia e a sociedade da época.
A conservação de moedas é uma das prioridades de Hilton. Ele enfatizou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que protege contra a corrosão, e alertou contra restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Hilton recomenda aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e bandejas de veludo com proteção contra umidade para evitar danos às peças. Para análises técnicas, ele utiliza ferramentas como microscópios, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes que indicam a circulação das moedas.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Hilton desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas, participação em congressos e colaborações com outros especialistas. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, alternando entre edições impressas e digitais. Para Hilton, o exame físico das moedas é essencial, pois permite observar nuances, como microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Hilton é um defensor da numismática como ferramenta interdisciplinar. Ele colabora com projetos que integram moedas a estudos arqueológicos e históricos, demonstrando como esses objetos refletem dinâmicas sociais. Um de seus trabalhos recentes analisou moedas do período da Proclamação da República, revelando como os desenhos republicanos buscavam legitimar o novo regime. Ele também participa de exposições numismáticas, que utilizam narrativas visuais e textos informativos para tornar o conhecimento acessível a públicos variados.
Como pesquisador, Hilton publicou artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos recentes explorou as medalhas comemorativas dos 400 anos da fundação do Rio de Janeiro, em 2015, analisando como elas refletiam a identidade carioca. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre a circulação de moedas coloniais no Brasil.
Apesar de sua dedicação à numismática, Hilton não mantém uma coleção pessoal, preferindo concentrar seus esforços na preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas promove o acesso democrático ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Hilton elogiou iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de profissionais como Hilton, que combinam paixão, rigor técnico e compromisso com a preservação histórica. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Hilton Lúcio é um convite a enxergar nas moedas não apenas objetos de estudo, mas artefatos que desenterram histórias, conectando o passado ao presente.
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