Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Bernardo Aieta e Luiz Augusto Pellegrini, dois renomados numismatas, pesquisadores e entusiastas do colecionismo. A entrevista, integrada às iniciativas de promoção da numismática, explorou as trajetórias dos entrevistados, seus projetos conjuntos e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do Brasil.
Bernardo Aieta descobriu a numismática na década de 1980, enquanto cursava História na Universidade Federal Fluminense. Seu interesse surgiu ao analisar uma coleção de moedas do Segundo Reinado, que o fascinou pelo simbolismo e pela narrativa histórica gravada em cada peça. Luiz Augusto Pellegrini, por sua vez, entrou no universo numismático na década de 1990, durante seu curso de Economia na Universidade de São Paulo, ao estudar o impacto das reformas monetárias no Brasil republicano. Os dois se conheceram em um congresso da Sociedade Numismática Brasileira, onde iniciaram uma parceria que resultou em diversos projetos de pesquisa e divulgação.
Atualmente, Bernardo e Luiz Augusto colaboram em iniciativas que promovem a numismática como ferramenta de educação e preservação histórica. Um de seus projetos mais notáveis é a criação de um catálogo digital sobre moedas do período imperial, disponível no site da Sociedade Numismática Brasileira. O catálogo detalha peças raras, como as moedas de ouro cunhadas durante o reinado de Dom Pedro I, e inclui ensaios históricos que contextualizam o papel dessas moedas na consolidação da independência brasileira. O projeto, que combina pesquisa arquivística e análise técnica, tem atraído a atenção de colecionadores e pesquisadores nacionais e internacionais.
Durante a entrevista, Bernardo destacou que a numismática é uma disciplina que conecta história, arte e economia. Ele citou as moedas do Plano Cruzado, lançadas na década de 1980, como exemplo de peças que refletiam tentativas de controle inflacionário, com desenhos que promoviam confiança na economia. Luiz Augusto complementou, enfatizando que cada moeda é um artefato projetado com propósito, carregando símbolos que comunicam mensagens políticas. Ele mencionou as moedas de prata do reinado de Dom Pedro II, que reforçavam a estabilidade monárquica, como um caso emblemático.
A conservação de moedas é uma prioridade compartilhada por ambos. Bernardo explicou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que atua como proteção natural contra a corrosão, enquanto Luiz Augusto destacou a necessidade de evitar restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Eles recomendam aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de danos causados por umidade ou manipulação inadequada. Para análises técnicas, utilizam ferramentas como microscópios, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Bernardo e Luiz Augusto desenvolveram suas expertises por meio de estudos autodidatas e colaborações com outros especialistas. Eles utilizam catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, alternando entre edições impressas e digitais. Para ambos, o exame físico das moedas é indispensável, pois permite identificar nuances, como texturas e microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Bernardo e Luiz Augusto são defensores da numismática como ferramenta pedagógica. Eles coordenam oficinas em escolas e centros culturais, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas incentivam os participantes a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Eles também participam de exposições numismáticas, que combinam painéis informativos e narrativas visuais para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisadores, Bernardo e Luiz Augusto publicaram artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos colaborativos analisou as moedas comemorativas do sesquicentenário da Independência, em 1972, explorando como elas refletiam o contexto político da época. Eles também estão envolvidos na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentarão uma pesquisa conjunta sobre a influência das casas da moeda regionais na formação do sistema monetário brasileiro.
Apesar de sua dedicação, nenhum dos dois mantém coleções pessoais, preferindo focar na preservação de acervos institucionais. Eles acreditam que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Bernardo e Luiz Augusto elogiaram iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em fomentar o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância da parceria entre Bernardo e Luiz Augusto, que combina rigor acadêmico, paixão e compromisso com a divulgação. Para os entusiastas da numismática, as trajetórias de Bernardo Aieta e Luiz Augusto Pellegrini são um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da identidade brasileira.
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