Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, entrevistou Bruno Pellizzari, destacado numismata, pesquisador e educador. A conversa, integrada às iniciativas de promoção do colecionismo e da pesquisa, explorou a trajetória de Bruno, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do país.
Bruno Pellizzari descobriu a numismática na década de 1990, enquanto cursava História na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. Seu interesse foi despertado ao estudar uma coleção de moedas do período republicano durante um projeto sobre a economia do início do século XX. Fascinado pela capacidade das moedas de contar histórias através de seus desenhos e materiais, ele mergulhou no estudo da numismática, guiado por mentores especializados em história monetária. Desde então, Bruno tornou-se uma figura de destaque no meio numismático, reconhecido por sua dedicação à pesquisa e à educação.
Atualmente, Bruno atua como consultor de acervos numismáticos em museus e colaborador ativo da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos mais recentes foi a curadoria de uma exposição sobre moedas do Plano Real, realizada em um museu em Florianópolis. A exposição destacou peças lançadas em 1994, que marcaram a estabilização econômica, e incluiu painéis explicativos que abordavam o contexto político e social da época. O trabalho de Bruno envolveu catalogação detalhada e redação de textos históricos, atraindo colecionadores, estudantes e o público geral.
Durante a entrevista, Bruno destacou que a numismática é uma disciplina que transcende o estudo de objetos monetários, funcionando como uma janela para o passado. Ele explicou que cada moeda reflete as intenções de quem a produziu, desde os símbolos gravados até os metais escolhidos. Como exemplo, mencionou as moedas de ouro do Ciclo do Ouro, que exibiam a efígie de reis portugueses e simbolizavam o poder colonial, contrastando com as moedas de cobre usadas em transações locais. Para Bruno, essas peças são fontes primárias que complementam arquivos textuais, oferecendo insights únicos sobre a sociedade.
A conservação de moedas é uma das prioridades de Bruno. Ele enfatizou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que protege contra a corrosão, e alertou contra restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Bruno recomenda aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de umidade e poeira. Para análises técnicas, ele utiliza ferramentas como lupas, paquímetros e microscópios, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Bruno desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas e participação em congressos numismáticos. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, combinando consultas em edições impressas e digitais. Para Bruno, o exame físico das moedas é essencial, pois permite observar nuances, como microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Bruno é um defensor fervoroso da numismática como ferramenta educativa. Ele coordena oficinas para estudantes, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas incentivam os jovens a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Ele também participa de exposições numismáticas, que utilizam narrativas visuais e textos informativos para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisador, Bruno publicou artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos recentes analisou as moedas comemorativas dos 50 anos do Banco Central do Brasil, em 2015, explorando como elas refletiam a modernização econômica do país. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre a evolução das técnicas de cunhagem no Brasil republicano.
Apesar de sua dedicação, Bruno não mantém uma coleção pessoal, preferindo contribuir para a preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Bruno elogiou iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de profissionais como Bruno, que combinam paixão, rigor acadêmico e dedicação à educação. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Bruno Pellizzari é um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da memória brasileira.
Comentário