Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com um grupo de cinco renomados numismatas: Vagner Carvalheiro Porto, Gladys Mary Santos Sales, Guilherme Rodrigues, Ivan Grecco de Vasconcelos e Matheus Morais Cruz. A entrevista, integrada às iniciativas de promoção da numismática, explorou as trajetórias individuais e colaborativas dos entrevistados, seus projetos conjuntos e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do Brasil.
Vagner Carvalheiro Porto, historiador formado pela Universidade de São Paulo, descobriu a numismática na década de 1990 ao estudar moedas do Segundo Reinado. Gladys Mary Santos Sales, arqueóloga pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, entrou no campo na mesma década, fascinada por moedas coloniais encontradas em escavações. Guilherme Rodrigues, economista pela Universidade Federal de Minas Gerais, começou sua jornada numismática na década de 2000, analisando reformas monetárias do Plano Real. Ivan Grecco de Vasconcelos, formado em História pela Universidade Federal do Paraná, foi atraído pela numismática na década de 1980, ao herdar uma coleção de moedas republicanas. Matheus Morais Cruz, o mais jovem do grupo, graduado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, ingressou na numismática na década de 2010, inspirado por moedas comemorativas. O grupo se conheceu em eventos da Sociedade Numismática Brasileira, onde formaram uma parceria que combina diversas perspectivas disciplinares.
Atualmente, os cinco colaboram em um projeto ambicioso: a criação de uma plataforma digital interativa que mapeia a história monetária brasileira, hospedada no site da Sociedade Numismática Brasileira. A plataforma documenta moedas desde o período colonial até o Plano Real, com imagens de alta resolução, descrições técnicas e ensaios históricos que contextualizam cada peça. O projeto, que envolve catalogação, pesquisa arquivística e curadoria digital, tem atraído colecionadores, pesquisadores e estudantes, promovendo o acesso democrático ao patrimônio numismático.
Durante a entrevista, Vagner destacou que a numismática é uma disciplina interdisciplinar, conectando história, arte e economia. Ele citou as moedas de ouro do Ciclo do Ouro, que simbolizavam o poder colonial, como exemplo de peças que refletem intenções políticas. Gladys complementou, enfatizando que moedas encontradas em sítios arqueológicos oferecem pistas sobre circulação e comércio. Guilherme apontou que as moedas do Plano Cruzado, da década de 1980, revelam tentativas de estabilização econômica. Ivan destacou as moedas de prata do Primeiro Reinado, que legitimavam a independência, enquanto Matheus mencionou as moedas comemorativas dos Jogos Olímpicos Rio 2016, que celebravam a diversidade cultural. Juntos, eles reforçaram que cada moeda é um artefato narrativo, projetado com propósito.
A conservação de moedas é uma prioridade compartilhada pelo grupo. Gladys explicou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que protege contra corrosão, enquanto Ivan alertou contra restaurações invasivas, que comprometem a autenticidade. Eles recomendam o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de umidade e poeira. Para análises técnicas, utilizam ferramentas como microscópios, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, o grupo desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas, congressos e colaborações. Eles utilizam catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, alternando entre edições impressas e digitais. Matheus destacou que o exame físico das moedas é indispensável, pois permite identificar nuances, como microgravuras, que escapam às imagens digitais.
O grupo é defensor da numismática como ferramenta pedagógica. Eles coordenam oficinas em escolas e centros culturais, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas, lideradas por Guilherme e Matheus, incentivam os jovens a enxergar as moedas como objetos narrativos. O grupo também participa de exposições numismáticas, que combinam painéis informativos e narrativas visuais, com curadoria de Gladys e Vagner, para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisadores, os cinco publicaram artigos em revistas especializadas, incluindo a Revista Numismática da Sociedade Ibero-Americana de Numismática e os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos colaborativos analisou as moedas do Real, introduzidas em 1994, explorando como elas refletiam a estabilização econômica. Eles também estão envolvidos na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentarão uma pesquisa conjunta sobre a evolução das técnicas de cunhagem no Brasil, coordenada por Ivan.
Apesar de sua dedicação, nenhum dos cinco mantém coleções pessoais, preferindo focar na preservação de acervos institucionais. Eles acreditam que o trabalho com coleções públicas fortalece o patrimônio cultural e promove o acesso democrático ao conhecimento. O grupo elogiou iniciativas digitais, como tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em fomentar o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância da colaboração entre Vagner, Gladys, Guilherme, Ivan e Matheus, que combina diversidade de perspectivas, rigor acadêmico e paixão pela divulgação. Para os entusiastas da numismática, as trajetórias desses cinco numismatas são um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da identidade brasileira.
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