Na série de entrevistas promovidas pela Sociedade Numismática Brasileira (SNB), o diretor social Oswaldo Rodrigues recebeu o colecionador e estudioso Paulo Abreu. A conversa trouxe à tona a trajetória pessoal de Paulo no colecionismo e sua notável especialização nos 960 réis, uma das moedas mais emblemáticas da história monetária do Brasil.
Paulo Abreu iniciou seu interesse por moedas de forma despretensiosa. Como muitos colecionadores, guardava moedas das viagens internacionais, acumulando peças sem intenção de formar uma coleção organizada. O interesse sério começou quando, convidado por um amigo, foi apresentado a um acervo especializado de moedas portuguesas. A partir daí, passou a estudar e colecionar sistematicamente.
O encantamento pelos 960 réis surgiu naturalmente, conforme Paulo se aprofundava nas moedas coloniais e imperiais. Ele destacou que poucas moedas no mundo possuem a complexidade histórica, técnica e de estudo como os 960 réis brasileiros. Essas moedas narram o período da vinda da família real portuguesa ao Brasil, a adaptação do sistema monetário e a prática dos recunhos sobre moedas estrangeiras — em especial os 8 reales espanhóis.
Paulo explica que a maioria dos 960 réis foram cunhados sobre 8 reales espanhóis, mas há casos curiosos de recunhos sobre outras moedas de mesma tipologia e diâmetro, como pesos chilenos e dólares de diversos países, o que torna a pesquisa numismática nesse segmento especialmente rica.
Durante a entrevista, Paulo detalhou o conceito de recunho e recunho sobre recunho, quando uma moeda já recunhada recebe um novo valor ou nova marca. Citou exemplos como os 960 réis de 1827 do Rio de Janeiro recunhados sobre carimbos de Minas Gerais, além dos patacões com variantes de cunho extremamente raras.
Abordou ainda as diferenças entre recunhos de qualidade — onde se preserva parte da moeda base — e aqueles mais desgastados, destacando a importância da colaboração entre colecionadores na identificação desses detalhes.
Os 960 réis, segundo Paulo, não circularam amplamente fora do Brasil devido ao seu valor facial diferenciado (960 réis contra os cerca de 800 a 870 réis das moedas de 8 reales padrão internacional). Isso limitava sua aceitação em outros mercados, o que explica a predominância dessas moedas no Brasil e sua ausência em mercados asiáticos, por exemplo.
Paulo Abreu ressaltou a importância do trabalho de Lupércio para os estudos dos patacões, reconhecendo-o como referência absoluta para qualquer colecionador ou pesquisador dessa área. Destacou ainda outros autores e publicações que considera essenciais na formação de um colecionador mais avançado, como Herbert de Castro, Flávio, Rebouças, e o Davi Levi.
Ao final da entrevista, Paulo deixou recomendações para quem deseja começar no colecionismo: paciência, estudo constante e foco em peças de bom estado de conservação. Alertou para o entusiasmo inicial, que muitas vezes leva a compras precipitadas e peças inadequadas.
“O colecionador precisa aprender a dizer não. Estudar antes de comprar e priorizar sempre o melhor estado possível dentro das possibilidades.”
Como sugestão de visita, indicou o Museu Brasiliana do Itaú Cultural, em São Paulo, pela qualidade e organização do acervo, além do British Museum em Londres e o Museu de Numismática de Lisboa, que abrigam importantes coleções numismáticas, inclusive moedas brasileiras.
A entrevista foi finalizada com agradecimentos mútuos e o convite para que os interessados acompanhem as próximas entrevistas e eventos promovidos pela SNB, reforçando a importância da troca de informações e da convivência presencial nas feiras, encontros e simpósios.
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