Entrevistador: Oswaldo Rodrigues
Entrevistado: Alexandre Costa
Publicação: NumisPlay - Sociedade Numismática Brasileira
Nesta edição especial do NumisPlay, temos o prazer de apresentar Alexandre Costa, colecionador, pesquisador e reconhecido especialista em moedas de prata do Brasil, com foco nas variantes de 960 réis. Entrevistado por Oswaldo Rodrigues, Alexandre compartilha sua trajetória, métodos de estudo, desafios e aprendizados que conquistou ao longo de anos dedicados à numismática científica.
Como muitos numismatas, Alexandre iniciou-se ainda criança. Ganhou um "baldinho" cheio de moedas da década de 1980 — cruzados, cruzados novos e outras peças de aço inox. A brincadeira logo despertou curiosidade: datas diferentes, valores repetidos, detalhes que chamavam a atenção. Aquela botija infantil acabou sendo o ponto de partida de uma paixão que dura até hoje.
Embora tenha iniciado colecionando moedas dos estados alemães, foi ao entrar em contato com Luiz Capuccio, em Belo Horizonte, que Alexandre conheceu o universo fascinante dos 960 réis. Segundo ele, é uma série “viciante”, com múltiplas variantes, sobrecunhagens, ensaiadores e casas de cunhagem.
Seu critério principal de coleção é a aparência da base original da moeda. O ideal? Uma peça flor de cunho com a base anterior claramente visível. Mas nem sempre a moeda mais bonita vence — muitas vezes ele abre mão da estética em troca de uma base rara ou informativamente rica.
Alexandre cita como uma das moedas mais raras que já teve em mãos a 960 réis sobre 8 reales de 1808 da Nova Guatemala com o busto de Fernando VII — uma peça extremamente rara, com poucas unidades conhecidas. Ele também relembra o impacto de encontrar moedas com erros significativos, como a famosa legenda cruzada "erro cross", um achado que surpreendeu colecionadores e pesquisadores.
Referência entre estudiosos de prata colonial, Alexandre domina a classificação proposta por Lupércio de Carvalho, autor de catálogos clássicos sobre os 960 réis. Com o tempo, ele desenvolveu a habilidade de reconhecer variantes apenas observando traços característicos, como lendas, sombras e reversos.
Paralelamente, conduz uma profunda pesquisa sobre a série dos cruzados (1827–1833), um período de transição na história monetária brasileira ainda pouco explorado. Segundo ele, essa série “ainda renderá boas novidades”.
Além disso, colabora com atualizações de catálogos raros, como o de frações de prata entre 20 e 640 réis, iniciado por Luís Val da Aranha.
Alexandre é defensor de métodos simples e eficazes de conservação. Guarda suas moedas em envelopes de papel, dentro de caixas organizadoras. Evita o uso de tabuleiros, que expõem as peças ao oxigênio de forma desigual. “O envelope garante uma oxidação uniforme e protege a prata da umidade e de reações químicas”.
Ele alerta que essa técnica funciona bem para moedas de prata e ouro, mas não para peças de cobre ou aço, que demandam outros cuidados.
Sobre limpeza, Alexandre é categórico: evitar sempre que possível. Só considera aceitável remover crostas ou marcas superficiais que impedem a visualização de detalhes essenciais. Produtos abrasivos ou polimentos são totalmente contraindicados.
Para Alexandre, a numismática é inseparável da história. Cada moeda carrega o contexto de sua época: guerras, reformas monetárias, política e cultura. Ele recorda, com carinho, um momento marcante durante um congresso: sentado no chão, conversando com o especialista Flávio Rebouças, foi flagrado em uma imagem que se tornou símbolo do respeito e da paixão que ele tem pelo estudo.
Para quem está começando, a sugestão de Alexandre é começar pelas moedas mais recentes e acessíveis, como as do Real ou do Cruzeiro. A partir daí, o colecionador ganha conhecimento sobre estados de conservação, variantes e raridades, avançando com segurança para séries mais antigas.
Alexandre Costa representa a figura do numismata completo: colecionador criterioso, pesquisador dedicado e divulgador comprometido. Sua jornada, que começou com um simples baldinho de moedas, hoje se traduz em catálogos, aulas, palestras e contribuições inestimáveis para a história da numismática brasileira.
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