Nesta entrevista para o NumisPlay, o colecionador baiano Goulart Gomes compartilha sua trajetória no universo da numismática, revelando como a paixão pelas moedas, cédulas e medalhas se desenvolveu desde a infância até sua dedicação atual à medalhística nacional. Em conversa com Oswaldo Rodrigues, Goulart destaca a importância do estudo histórico, da pesquisa e do convívio entre colecionadores para a valorização desse patrimônio cultural.
Goulart recorda que sua relação com a numismática começou muito antes do que imaginava. Ainda criança, por volta dos dez anos, ficou fascinado ao ver uma mesa de vidro em um escritório de advogado em Salvador, onde estavam expostas diversas cédulas antigas, incluindo cédulas de réis e do primeiro Cruzeiro. Esse contato visual despertou seu interesse inicial, mesmo sem saber que se tornaria colecionador no futuro.
Aos 14 anos, Goulart começou a trabalhar como office-boy no Banco Nacional do Norte, em Salvador, onde teve acesso facilitado às novas emissões de cédulas durante um período de alta inflação no Brasil. Essa proximidade com as cédulas em circulação permitiu que ele começasse a formar sua primeira coleção, inicialmente focada em cédulas brasileiras.
Embora tenha iniciado colecionando cédulas, Goulart expandiu seu interesse para moedas brasileiras, especialmente as nacionais, e mais recentemente para a medalhística. Ele explica que o contato com medalhas surgiu há cerca de dez anos, durante sua graduação em História e posterior mestrado em Museologia na Universidade Federal da Bahia. Essa formação acadêmica o levou a enxergar as medalhas como elementos fundamentais da cultura material que registram a memória nacional.
Goulart prefere o termo “medalhista” para quem coleciona e estuda medalhas, destacando que a palavra “medalhística” tem múltiplos significados e pode gerar confusão. Para ele, as medalhas são pequenos pedaços da história do país, muitas vezes registrando fatos esquecidos que, sem elas, poderiam se perder.
O colecionador enfatiza que a numismática vai muito além do objeto físico. Ele se interessa especialmente pela “sócio-numismática”, ou seja, os aspectos sociais e econômicos que as moedas, cédulas e medalhas revelam. Goulart realizou estudos sobre a invisibilidade de negros, indígenas e mulheres na medalhística nacional, trazendo à tona narrativas pouco exploradas.
Além disso, ele mantém o “Museu das Medalhas” (www.museudasmedalhas.com.br), um blog sem fins comerciais dedicado a divulgar e informar sobre as principais medalhas do acervo nacional, contribuindo para a democratização do conhecimento numismático.
Outro aspecto curioso do colecionismo de Goulart é o interesse por cédulas de propaganda comercial, que não são moedas oficiais, mas peças produzidas para fins comerciais, políticos ou religiosos. Essas cédulas, também chamadas de “pixels dos cedros”, carregam histórias sobre o comércio, a política e a cultura do país, ampliando o campo de estudo e coleção.
Goulart destaca o papel da Sociedade Numismática Brasileira e das publicações especializadas, como o boletim e a revista numismática, para o fortalecimento do colecionismo no país. Ele ressalta que o conhecimento é essencial para transformar uma simples coleção em um acervo significativo e que o convívio entre colecionadores é insubstituível para o aprendizado e a troca de experiências.
A entrevista com Goulart Gomes revela um colecionador que alia paixão, estudo e compromisso com a preservação da memória nacional. Sua trajetória mostra que a numismática é uma atividade rica em história, cultura e sociologia, e que o conhecimento aprofundado é o que dá sentido e valor a cada peça.
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