Entrevistador: Oswaldo Rodrigues
Entrevistado: Cristiano Bierrenbach
Publicação: NumisPlay - Sociedade Numismática Brasileira
Nesta edição especial do NumisPlay, temos o privilégio de acompanhar a trajetória de Cristiano Bierrenbach, um dos mais respeitados nomes da numismática brasileira e internacional. De suas primeiras moedas encontradas na infância no Rio de Janeiro ao comando de leilões históricos nos Estados Unidos, Cristiano compartilha uma jornada inspiradora que revela a importância do colecionismo, da convivência social entre numismatas e da defesa da ética no mercado numismático.
Cristiano iniciou sua paixão pela numismática ao encontrar, ainda criança, uma caixa com moedas do bisavô. Intrigado, procurou um livro para entendê-las e foi com um preçário do Júlio Vieira, comprado em uma loja do Rio, que começou a decifrar aquele universo.
Já morando em São Paulo, descobriu o mundo efervescente da Praça da República e passou a frequentar as tradicionais lojas numismáticas da região. A introdução oficial na Sociedade Numismática Brasileira (SNB) aconteceu no final dos anos 1990, quando foi levado por um comerciante ao prédio da entidade. A partir de então, passou a frequentar as reuniões semanalmente, mergulhando no conhecimento partilhado pelos grandes mestres da numismática.
Para Cristiano, a SNB foi um divisor de águas: "Foi onde eu realmente aprendi. Era minha escola." Ele relata a convivência com nomes importantes do meio, o entusiasmo de participar de reuniões, e a importância das amizades construídas. A SNB representava (e ainda representa) um espaço de aprendizado e conexão social para todos os tipos de colecionadores.
Desde cedo, Cristiano passou a frequentar encontros e feiras numismáticas por todo o país — de Porto Alegre a João Pessoa. A troca com colecionadores de diferentes regiões foi essencial para sua formação. Ele defende que os eventos presenciais não devem desaparecer, mesmo diante da tecnologia: "O maior benefício é o convívio com os amigos que amam a numismática como você."
Questionado sobre como disseminar a numismática, Cristiano é enfático: "A chave é a educação." Ele destaca o papel da SNB e das novas tecnologias em tornar o acesso à informação mais fácil, e acredita que todos os atores — colecionadores, comerciantes e estudiosos — têm o dever de proteger, divulgar e valorizar a numismática nacional.
Cristiano nunca deixou de colecionar moedas. Sua coleção é dinâmica: algumas peças entram, outras saem. Hoje, busca principalmente moedas com beleza numismática excepcional, independentemente da origem. Entre suas áreas de interesse estão:
Moedas de prova do Brasil
Medalhas e condecorações militares (muitas herdadas do avô)
Moedas judaicas e asiáticas
Moedas antigas em cobre e prata
A peça mais simbólica da coleção é um pátaca de ouro de 1850, guardada desde a infância — a única moeda de ouro encontrada na famosa "caixinha do bisavô".
Atualmente, Cristiano trabalha há mais de 14 anos em uma das maiores casas de leilões dos Estados Unidos, onde atua como especialista em numismática. Participou da organização e venda de coleções de extrema relevância mundial, como:
Moedas judaicas do primeiro século
Acervos asiáticos montados por veteranos da Segunda Guerra Mundial
Coleções de moedas mexicanas, brasileiras e globais de grande valor histórico
Além da curadoria, ele atua junto a advogados e consultores para garantir que todo o processo respeite leis internacionais de patrimônio histórico, com destaque para modelos como o britânico, que permite ao Estado a primeira opção de aquisição de peças arqueológicas.
Cristiano enfatiza a importância da ética no mercado numismático, especialmente entre comerciantes profissionais. Ele destaca a existência de entidades internacionais que expõem e afastam profissionais desonestos, protegendo o mercado e os colecionadores. "Comerciantes têm responsabilidade redobrada com o mercado", afirma.
Ao ser questionado sobre a participação de pessoas simples na numismática, Cristiano reforça: “A numismática é para todos. Há espaço para quem coleciona moedas de um real ou moedas raríssimas.” Ele recomenda que iniciantes se associem à SNB, onde terão acesso a uma biblioteca especializada, boletins, eventos e apoio técnico — tudo por um valor simbólico mensal.
Cristiano Bierrenbach encerra a entrevista reiterando que a numismática é uma jornada de vida e que o verdadeiro valor está nas conexões que criamos ao longo do caminho. Ele lembra com carinho dos encontros com grandes nomes da numismática brasileira e destaca a importância do trabalho voluntário para manter viva essa comunidade.
“A SNB é o lugar para nos encontrarmos. Todos temos algo a contribuir.”
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