Entrevistador: Oswaldo Rodrigues
Entrevistada: Telma Ceolin
Publicação: NumisPlay - Sociedade Numismática Brasileira
Nesta edição da série de entrevistas promovida pela Sociedade Numismática Brasileira, Oswaldo Rodrigues conversa com Telma Ceolin, ex-diretora do Museu de Valores do Banco Central do Brasil e atual membro da Comissão Editorial da Revista Numismática Brasileira. Com ampla experiência institucional e um olhar voltado à educação e à preservação da memória numismática, Telma compartilha sua jornada e projetos, entre eles o notável incentivo ao colecionismo infantil.
Ao contrário de muitos entrevistados, Telma não chegou à numismática como colecionadora tradicional. Seu envolvimento começou em 1998, quando assumiu a direção do Museu de Valores do Banco Central, em Brasília. Vinda de uma formação administrativa, ela confessa que não conhecia a ciência numismática até então. A partir da convivência com o acervo e com os frequentadores do museu, passou a compreender a profundidade histórica e educativa que o estudo das moedas proporciona.
Apesar disso, a numismática já estava presente em sua vida: Telma herdou uma pequena coleção de moedas do pai, funcionário do Banco do Brasil. Esse primeiro contato, aliado à experiência profissional, foi a base de uma relação crescente com o campo.
O Museu de Valores foi idealizado por Florisvaldo Trigueiros, com o objetivo de apresentar os meios de pagamento e os valores representativos da economia nacional. A proposta era ir além das moedas, tratando o dinheiro como reflexo da história social e econômica do país.
Durante sua gestão, Telma observou o enorme potencial pedagógico do museu. O projeto “Museu-Escola” levou milhares de crianças à instituição, revelando o poder da numismática como ferramenta de aprendizado interdisciplinar — combinando história, arte, economia e educação cívica.
Inspirada por essa vivência, Telma idealizou o projeto "Colecionador Mirim", com o objetivo de despertar o interesse das crianças pela numismática desde cedo. O projeto criou uma rede informal de jovens colecionadores que, com apoio familiar, compartilham histórias, organizam suas coleções e se conectam por meio das redes sociais.
Atualmente, já são mais de 50 crianças cadastradas, com idades entre 8 e 14 anos. Telma ressalta a importância de estimular não apenas a posse de peças, mas também a pesquisa e a metodologia de catalogação, desenvolvendo desde cedo um olhar crítico e histórico sobre os objetos.
Durante a entrevista, Telma destaca a transformação da Sociedade Numismática Brasileira ao longo dos anos. Tradicionalmente marcada pela atuação de estudiosos mais experientes, a SNB passou a abrir espaço para jovens autores, colecionadores e pesquisadores. Essa renovação, segundo Telma, representa um sopro de vitalidade que garantirá a continuidade da numismática no Brasil.
Ao ser questionada sobre sua moeda favorita, Telma hesita. Sua relação com a numismática é menos emocional com o objeto e mais profunda com a história que ele carrega. Para ela, o valor das moedas está na narrativa, no contexto em que foram cunhadas e no que representam para a memória social.
Entre os episódios marcantes de sua carreira, Telma relembra sua participação na homologação da famosa moeda da “bromélia”, criada por Balsemão, um artista que reproduzia modelos metálicos. A peça, cercada de dúvidas quanto à sua origem, foi confirmada como cunhada em testes na Casa da Moeda, embora nunca tenha circulado oficialmente.
Telma esteve envolvida diretamente nesse processo, contribuindo com análises e articulações entre o artista, o Banco Central e a Casa da Moeda. A moeda, segundo ela, foi parte dos testes realizados na época da segunda família do Real, que demandava novas tecnologias para uso em máquinas de venda automática.
Telma também foi peça-chave na aproximação entre o Banco Central e os colecionadores brasileiros. Ela articulou encontros, audiências e até a criação de um canal de comunicação direta para tratar das emissões comemorativas. Em 2000, participou da organização do congresso luso-brasileiro de numismática em Portugal e, em 2002, esteve à frente do seminário “O Dinheiro e seus Valores”, promovido em Brasília.
Telma Ceolin é uma das vozes mais respeitadas na interface entre numismática, memória institucional e educação. Sua trajetória mostra que o universo numismático vai além da coleção: é uma rede de significados, histórias e encontros. Ao transformar sua experiência museológica em um projeto educativo como o Colecionador Mirim, ela ajuda a construir o futuro da numismática brasileira.
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