Entrevistador: Oswaldo Rodrigues
Entrevistado: Luís Salgado
Publicação: NumisPlay - Sociedade Numismática Brasileira
A Sociedade Numismática Brasileira tem o prazer de apresentar mais uma valiosa entrevista da série "Numismática Viva", desta vez com o colecionador português Luís Salgado, especialista em fichas monetárias e estudioso dedicado à catalogação e à divulgação desse ramo tão singular da numismática. A conversa, conduzida por Oswaldo Rodrigues, diretor social e de divulgação da SNB, aborda a história, a função e a riqueza cultural das fichas no contexto europeu e brasileiro.
Luís Salgado inicia a entrevista explicando o que são as fichas: objetos que, embora se assemelhem a moedas, não são emitidos por autoridades monetárias estatais. Em Portugal, o termo “ficha” é preferido ao termo genérico “peça”, por este último ser excessivamente amplo. As fichas, segundo ele, são moedas particulares, criadas com finalidades específicas — muitas vezes utilizadas como vale de troca, instrumento de controle ou entrada em locais como teatros, clubes e estabelecimentos comerciais.
Durante a entrevista, Salgado apresenta registros históricos que demonstram o uso de fichas desde o Império Romano, como no caso de fichas de entrada para teatros em ruínas romanas de Coimbra. Tais evidências revelam que o uso de instrumentos simbólicos de valor não é recente, e que as fichas sempre cumpriram uma função social concreta.
Ele destaca um exemplo contemporâneo: uma ficha emitida pela Câmara Municipal de Gaia, em porcelana, no ano de 1921. Essa ficha é especial não apenas pela materialidade pouco comum, mas também por seu centenário, que motivou Salgado a produzir um artigo de aprofundamento.
Questionado sobre como começou sua coleção, Salgado conta que a paixão surgiu quase por acidente. Originalmente interessado em moedas medievais e da Antiguidade, foi convidado a sistematizar um índice de discussões sobre fichas no fórum "Numismática Portugal". O mergulho no tema revelou um universo riquíssimo de histórias ligadas não ao poder político, mas à vivência popular. Para ele, as fichas contam a história das sociedades anônimas e do cotidiano das pessoas comuns — e é justamente isso que o fascina.
Para Salgado, sua ficha preferida é sempre "a que está estudando no momento". Ele enxerga cada nova peça como uma oportunidade de pesquisa histórica. Contudo, destaca com carinho a ficha da Ponte Dom Luís I, do Porto, sua cidade natal, como uma das primeiras que o emocionou.
Durante a conversa, destaca-se a carência de bons catálogos sobre fichas, especialmente em Portugal continental. Salgado menciona o trabalho pioneiro de Jaime Salgado nos anos 1970 como uma das primeiras tentativas de sistematização das fichas portuguesas. A ausência de registros oficiais leva à perda irreversível de informações sobre muitas peças. Ele também menciona com entusiasmo a colaboração brasileira em catálogos como o de Alexandre Barros, sobre fichas telefônicas.
Em 2020, Salgado participou da organização de uma webconferência internacional sobre fichas, reunindo colecionadores de mais de 20 países. O sucesso do evento reforçou o desejo de mantê-lo anualmente, promovendo trocas de experiências e ampliando o alcance do colecionismo de fichas.
Luís reforça o convite para que brasileiros participem da próxima edição, destacando que a troca de informações entre Portugal e Brasil pode fortalecer ambas as comunidades numismáticas.
Para quem deseja iniciar-se no colecionismo de fichas, Luís Salgado oferece dois conselhos:
Buscar em feiras e caixas de moedas avulsas, onde geralmente se encontram fichas esquecidas.
Investigar a história por trás das peças. Muitas vezes, a narrativa que envolve uma ficha é tão rica que cativa o colecionador de imediato.
Além disso, ele enfatiza a importância da troca de informações entre colecionadores. “Quando se compartilha conhecimento, ele se multiplica”, afirma.
A entrevista é encerrada com agradecimentos da SNB pela generosidade de Salgado em compartilhar seu tempo e conhecimento. O convite para que ele escreva para a Revista Numismática Brasileira é reforçado, assim como a importância de manter vivo o espírito de colaboração entre os estudiosos do Brasil e de Portugal.
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