Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, entrevistou o Coronel Galdino, oficial militar reformado, numismata e defensor do colecionismo. A conversa, integrada às iniciativas de promoção da numismática, explorou a trajetória de Galdino, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do país.
O Coronel Galdino descobriu a numismática na década de 1970, durante sua formação na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, Rio de Janeiro. Seu interesse foi despertado ao receber uma moeda de prata do período republicano como presente de um colega de farda, o que o intrigou pelo simbolismo e pela narrativa histórica gravada na peça. Esse encontro com a numismática o levou a estudar história militar e econômica de forma autodidata, complementando sua carreira militar com uma paixão pelo colecionismo. Hoje, Galdino é uma figura respeitada no meio numismático, conhecido por sua dedicação à pesquisa e à divulgação.
Atualmente, Galdino atua como consultor de acervos numismáticos e colaborador da Sociedade Numismática Brasileira, além de ministrar palestras sobre a história monetária em eventos culturais. Um de seus projetos mais recentes foi a organização de uma exposição sobre moedas militares brasileiras, realizada em um museu militar em Brasília. A exposição destacou peças raras, como medalhas e moedas comemorativas associadas a eventos históricos, incluindo as moedas do centenário da Proclamação da República, em 1989. O projeto combinou catalogação técnica e textos históricos, atraindo colecionadores, militares e o público geral.
Durante a entrevista, Galdino destacou que a numismática é uma ferramenta única para compreender a história, especialmente em contextos militares e políticos. Ele explicou que cada moeda reflete as intenções de quem a produziu, desde os símbolos gravados até os materiais escolhidos. Como exemplo, mencionou as moedas de níquel do governo Vargas, que promoviam a unidade nacional durante o Estado Novo, contrastando com as moedas de ouro do reinado de Dom João VI, que simbolizavam a legitimidade da coroa portuguesa no Brasil. Para Galdino, essas peças são fontes primárias que revelam dinâmicas sociais e políticas.
A conservação de moedas é uma das prioridades de Galdino. Ele enfatizou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que protege contra a corrosão, e alertou contra restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Ele recomenda aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de umidade e poeira. Para análises técnicas, Galdino utiliza ferramentas como lupas, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja parte do currículo militar, Galdino desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas e participação em congressos numismáticos. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, combinando edições impressas e digitais. Para Galdino, o exame físico das moedas é essencial, pois permite observar nuances, como microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Galdino é um defensor da numismática como ferramenta de educação histórica. Ele organiza oficinas em escolas e instituições militares, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e política do Brasil. Essas iniciativas incentivam os participantes a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Ele também participa de exposições numismáticas, que utilizam narrativas visuais e textos informativos para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisador, Galdino publicou artigos em revistas especializadas, incluindo os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos recentes analisou as moedas comemorativas do bicentenário da Independência, em 2022, explorando como elas refletiam a identidade nacional. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre a relação entre moedas e propaganda política no Brasil do século XX.
Apesar de sua dedicação, Galdino mantém uma coleção pessoal modesta, focada em moedas e medalhas militares brasileiras. Ele vê o colecionismo como uma extensão de sua paixão pela história, mas enfatiza a importância de compartilhar conhecimento com a comunidade. Galdino elogiou iniciativas digitais, como tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, democratizaram o acesso às coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de figuras como o Coronel Galdino, que combinam disciplina militar, paixão acadêmica e dedicação à divulgação. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Galdino é uma inspiração para enxergar nas moedas não apenas objetos de coleção, mas narrativas históricas que conectam o passado ao presente, preservando a identidade cultural brasileira.
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