A Sociedade Numismática Brasileira, em mais uma de suas séries de entrevistas, teve a honra de conversar com Manoel Camassa, um nome que há mais de cinco décadas contribui para a história e preservação da numismática nacional. Nessa conversa, Camassa compartilhou suas memórias, aprendizados e reflexões sobre a trajetória do colecionismo e do mercado numismático brasileiro.
Manoel Camassa relembra que sua paixão pela numismática começou na juventude, aos 17 anos, quando trabalhava na Sears, rede de varejo americana. Foi ali que, ao lidar com o caixa, encontrou uma cédula de 200 cruzeiros assinada a caneta verde. Impressionado, decidiu não passá-la adiante e mantê-la em sua gaveta. Essa cédula permanece até hoje em sua coleção.
O interesse, no entanto, já vinha de casa. Seu pai era colecionador de moedas, e Manoel herdou o fascínio e parte do acervo familiar, estreitando desde cedo sua relação com o meio.
Na década de 1960, Camassa passou a frequentar a tradicional Feira da Praça da República, ponto de encontro de colecionadores e comerciantes de moedas, cédulas e antiguidades. Ele destaca a efervescência do local, onde moedas históricas e materiais numismáticos raros eram negociados semanalmente.
Com o tempo, Manoel abriu sua própria loja na Galeria do Rock, em São Paulo, onde permaneceu por 45 anos. Ali, além de negociar peças, também desenvolveu materiais de suporte ao colecionismo, como folhas plásticas e envelopes específicos para moedas e cédulas.
Na década de 1980, percebendo a carência de publicações atualizadas para os colecionadores, Camassa idealizou e publicou, ao lado de outros colaboradores, o Catálogo de Cédulas Brasileiras, que se tornou referência nacional. A primeira edição, de 1984, colorida e acessível, preencheu uma lacuna no mercado e gerou excelente repercussão.
Foram ao todo 15 edições do catálogo, além de um dedicado a cédulas estrangeiras. Segundo Camassa, a publicação era tão aguardada que ele chegava a escrever manualmente envelopes de divulgação durante plantões noturnos em sua atividade paralela como delegado de polícia.
Apaixonado por cédulas de assinaturas autografadas, Manoel Camassa destacou algumas de suas peças preferidas, como as séries de 5.000 réis com reverso incomum e cédulas de mil cruzeiros com impressões defeituosas e marcas de produção raras.
Ele também relembra o valor histórico e emocional de ter vendido uma peça para Moura, então presidente da Sociedade Numismática Brasileira, considerada uma de suas realizações como comerciante e colecionador.
Camassa compartilhou episódios curiosos, como a aquisição de notas numeradas com dígitos 000000, descobertas em meio a lotes adquiridos de forma casual, e negociações inusitadas na Praça da República e no Masp. Destacou também a importância de manter atenção e estudo constante sobre o material adquirido.
Encerrando a entrevista, Manoel Camassa reforçou a importância das sociedades numismáticas para formação, educação e integração dos colecionadores, além do papel fundamental da convivência e troca de experiências.
“A numismática brasileira tem muita história para contar, e quem se dedica a esse meio precisa de foco, estudo e, acima de tudo, paixão pela memória que essas peças carregam.” — afirmou.
Esta entrevista resgata não apenas a trajetória de Manoel Camassa, mas revela as raízes e a evolução do colecionismo numismático no Brasil, evidenciando o valor da história oral e da tradição para as novas gerações de colecionadores.
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