Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, conversou com Rogério Bertapelli e Edil Gomes, dois renomados numismatas e entusiastas do colecionismo. A entrevista, integrada às iniciativas de promoção da numismática, explorou as trajetórias dos entrevistados, seus projetos conjuntos e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do Brasil.
Rogério Bertapelli descobriu a numismática na década de 1980, enquanto cursava História na Universidade Estadual de Campinas. Seu interesse surgiu ao estudar uma coleção de moedas do período imperial, que o fascinou pelo simbolismo e pela narrativa histórica gravada em cada peça. Edil Gomes, por sua vez, entrou no universo numismático na década de 1990, durante seu curso de Economia na Universidade Federal do Ceará, ao analisar o impacto das reformas monetárias no Brasil republicano. Os dois se conheceram em um congresso da Sociedade Numismática Brasileira, onde iniciaram uma parceria que combina pesquisa acadêmica e divulgação cultural.
Atualmente, Rogério e Edil colaboram em iniciativas que promovem a numismática como ferramenta de educação e preservação histórica. Um de seus projetos mais notáveis é a criação de um banco de dados online sobre moedas do Plano Real, hospedado no site da Sociedade Numismática Brasileira. O banco de dados detalha peças lançadas a partir de 1994, incluindo moedas comemorativas, e oferece ensaios que contextualizam o papel dessas moedas na estabilização econômica do Brasil. O projeto, que combina catalogação técnica e análise histórica, tem atraído colecionadores, pesquisadores e estudantes.
Durante a entrevista, Rogério destacou que a numismática é uma disciplina que conecta história, arte e economia. Ele citou as moedas de prata do Segundo Reinado, que exibiam a efígie de Dom Pedro II, como exemplo de peças que reforçavam a estabilidade monárquica. Edil complementou, enfatizando que cada moeda é um artefato projetado com propósito, carregando símbolos que comunicam mensagens políticas. Ele mencionou as moedas do Cruzeiro, da década de 1940, que refletiam as transformações econômicas do período, como um caso emblemático. Juntos, eles reforçaram que as moedas são fontes primárias que complementam registros históricos.
A conservação de moedas é uma prioridade compartilhada por ambos. Rogério explicou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que atua como proteção contra a corrosão, enquanto Edil destacou a necessidade de evitar restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Eles recomendam aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de danos causados por umidade ou manipulação inadequada. Para análises técnicas, utilizam ferramentas como microscópios, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Rogério e Edil desenvolveram suas expertises por meio de estudos autodidatas e participação em eventos numismáticos. Eles utilizam catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, alternando entre edições impressas e digitais. Para ambos, o exame físico das moedas é indispensável, pois permite identificar nuances, como texturas e microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Rogério e Edil são defensores da numismática como ferramenta pedagógica. Eles coordenam oficinas em escolas e centros culturais, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas incentivam os participantes a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Eles também participam de exposições numismáticas, que combinam painéis informativos e narrativas visuais para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisadores, Rogério e Edil publicaram artigos em revistas especializadas, incluindo os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos colaborativos analisou as moedas comemorativas dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, em 2000, explorando como elas refletiam a diversidade cultural do país. Eles também estão envolvidos na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentarão uma pesquisa conjunta sobre a evolução das moedas regionais no Brasil colonial.
Apesar de sua dedicação, nenhum dos dois mantém coleções pessoais, preferindo focar na preservação de acervos institucionais. Eles acreditam que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Rogério e Edil elogiaram iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em fomentar o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância da parceria entre Rogério e Edil, que combina rigor acadêmico, paixão e compromisso com a divulgação. Para os entusiastas da numismática, as trajetórias de Rogério Bertapelli e Edil Gomes são um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da identidade brasileira.
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