Como parte da série de entrevistas da Sociedade Numismática Brasileira, Osvaldo Rodrigue, diretor social de divulgação, entrevistou Edil Gomes, destacado numismata, pesquisador e defensor do colecionismo. A conversa, integrada às iniciativas de promoção da numismática, explorou a trajetória de Edil, suas contribuições para a numismática brasileira e o papel das moedas como documentos históricos que preservam a memória cultural e econômica do país.
Edil Gomes descobriu a numismática na década de 1990, enquanto cursava Economia na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Seu interesse foi despertado ao estudar o impacto das reformas monetárias do Plano Real, o que o levou a investigar as moedas como reflexos de mudanças econômicas e políticas. Fascinado pela capacidade das moedas de narrar histórias através de seus desenhos e materiais, ele aprofundou seus estudos em história monetária de forma autodidata, complementando sua formação acadêmica. Hoje, Edil é uma figura respeitada no cenário numismático, conhecido por sua dedicação à pesquisa e à educação.
Atualmente, Edil atua como consultor de acervos numismáticos e colaborador ativo da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus projetos mais recentes foi a coautoria de um guia digital sobre moedas do período republicano, publicado no site da Sociedade Numismática Brasileira. O guia detalha peças emblemáticas, como as moedas de níquel da Proclamação da República, e inclui ensaios históricos que contextualizam o papel dessas moedas na formação da identidade nacional. O projeto, que combina catalogação técnica e narrativas acessíveis, tem sido amplamente utilizado por colecionadores e estudantes.
Durante a entrevista, Edil destacou que a numismática é uma disciplina que conecta economia, história e arte. Ele explicou que cada moeda reflete as intenções de quem a produziu, desde os símbolos gravados até os materiais escolhidos. Como exemplo, mencionou as moedas do Cruzeiro, introduzidas na década de 1940, que refletiam as transformações econômicas do governo Vargas, contrastando com as moedas de prata do Primeiro Reinado, que legitimavam a independência brasileira. Para Edil, essas peças são fontes primárias que complementam arquivos textuais, oferecendo perspectivas únicas sobre o passado.
A conservação de moedas é uma das prioridades de Edil. Ele enfatizou a importância de preservar a pátina em moedas de prata, que atua como proteção natural contra a corrosão, e alertou contra restaurações invasivas, que podem comprometer a autenticidade. Edil recomenda aos colecionadores o uso de luvas de nitrilo e cápsulas de acrílico para proteger as peças de umidade e poeira. Para análises técnicas, ele utiliza ferramentas como microscópios, paquímetros e balanças de precisão, que revelam detalhes como marcas de cunhagem e desgastes indicativos de circulação.
Embora a numismática não seja amplamente ensinada nas universidades brasileiras, Edil desenvolveu sua expertise por meio de estudos autodidatas e participação em congressos numismáticos. Ele utiliza catálogos de referência, como os de Arnaldo Russo para moedas brasileiras e os da Krause Publications para peças internacionais, combinando consultas em edições impressas e digitais. Para Edil, o exame físico das moedas é insubstituível, pois permite identificar nuances, como microgravuras, que escapam às imagens digitais.
Edil é um defensor da numismática como ferramenta pedagógica. Ele coordena oficinas em escolas e centros culturais, utilizando réplicas de moedas para ensinar sobre a história econômica e cultural do Brasil. Essas iniciativas incentivam os jovens a enxergar as moedas como objetos narrativos, capazes de despertar curiosidade e promover o aprendizado. Ele também participa de exposições numismáticas, que utilizam narrativas visuais e textos informativos para tornar a história monetária acessível a públicos diversos.
Como pesquisador, Edil publicou artigos em revistas especializadas, incluindo os periódicos da Sociedade Numismática Brasileira. Um de seus estudos recentes analisou as moedas comemorativas dos 50 anos do Banco Central do Brasil, em 2015, explorando como elas refletiam a modernização econômica do país. Ele também está envolvido na organização do próximo Congresso Brasileiro de Numismática, onde apresentará uma pesquisa sobre a influência das reformas monetárias na cunhagem brasileira do século XX.
Apesar de sua dedicação, Edil não mantém uma coleção pessoal, preferindo contribuir para a preservação de acervos institucionais. Ele acredita que o trabalho com coleções públicas democratiza o acesso ao conhecimento e fortalece o patrimônio cultural. Edil elogiou iniciativas digitais, como os tours virtuais de museus, que, especialmente durante a pandemia, ampliaram a visibilidade das coleções numismáticas, permitindo que entusiastas de todo o mundo explorassem acervos remotamente.
A entrevista reforçou o compromisso da Sociedade Numismática Brasileira em promover o colecionismo e a pesquisa numismática. Osvaldo Rodrigue destacou a relevância de profissionais como Edil, que combinam paixão, rigor acadêmico e dedicação à educação. Para os entusiastas da numismática, a trajetória de Edil Gomes é um convite a explorar as histórias gravadas em cada moeda, transformando o colecionismo em uma prática de aprendizado e celebração da identidade brasileira.
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