A trajetória de Enio Galetti é marcada por mais de três décadas de dedicação à numismática, com uma atuação que vai do colecionismo apaixonado à pesquisa e publicação de obras de referência. Nesta entrevista exclusiva para o NumisPlay, Galetti compartilha suas origens, experiências, aprendizados e sua contribuição fundamental para o estudo das moedas de cobre brasileiras.
Enio Galetti relembra que seu interesse por moedas começou ainda na infância, aos dez anos, quando recebeu de um colega uma moeda de bronze-alumínio do Duque de Caxias, usada como contribuição para o time de futebol dos meninos. O fascínio pela peça foi tão grande que ele preferiu ficar com a moeda a receber o dinheiro. A partir daí, Galetti passou a guardar moedas recebidas do pai, colecionando-as em caixinhas de madeira, típicas do Matte Leão, que ainda conserva como recordação.
Essas primeiras moedas eram, em sua maioria, do período anterior e posterior ao governo Getúlio Vargas, e marcaram o início de sua paixão pelo colecionismo. Contudo, o interesse pela numismática como estudo e pesquisa só se consolidou após a universidade, quando começou a frequentar a tradicional Feira da Praça da República, em São Paulo, e adquiriu seu primeiro catálogo de moedas, de Arnaldo Russo.
O contato com catálogos e livros especializados foi fundamental para transformar o colecionismo de Galetti em uma atividade de pesquisa. Ele relata o entusiasmo ao organizar suas moedas conforme os catálogos, preenchendo lacunas como se fosse um álbum de figurinhas. Com o tempo, passou a adquirir moedas de prata e cobre, mas foi com as moedas de cobre que encontrou sua verdadeira paixão, atraído pela riqueza histórica e pelas histórias que cada peça carrega.
Galetti destaca, por exemplo, o episódio das moedas da Cachoeira, cunhadas na Bahia durante a luta dos brasileiros contra os portugueses, e a circulação de moedas portuguesas em colônias da África, temas pouco abordados nos livros escolares, mas ricos em conteúdo histórico.
Movido pelo interesse em história e pesquisa, Galetti construiu uma biblioteca numismática respeitável e passou a estudar obras de referência, como as de Álvaro da Veiga, professor da USP e ex-presidente da Sociedade Numismática Brasileira, além de autores como Souza Lobo, Kurt Prober e Caffarelli.
Sua dedicação resultou na publicação de importantes livros sobre moedas de cobre, em parceria com Rogério Bertapelle, com quem desenvolveu um trabalho meticuloso de catalogação e fotografia das variantes. Destaca-se o volume dedicado às moedas de cobre do Brasil, que reúne variantes e informações inéditas, fruto de anos de pesquisa e colaboração com outros estudiosos, como Vinícius José do Amaral.
Enio Galetti é sócio remido da Sociedade Numismática Brasileira desde 1989, tendo recebido o título após 25 anos de atuação. Também participou da fundação da Sociedade Numismática Paranaense, em 1991, e é membro de outras sociedades regionais, como a de Brasília e de Santa Catarina. Ressalta a importância do convívio com outros colecionadores, das trocas de experiências e das contribuições mútuas para o crescimento do hobby no Brasil.
Galetti foi homenageado como Numismata do Ano, reconhecimento pelo trabalho de pesquisa, organização e divulgação das moedas de cobre brasileiras. Ele destaca que seu maior orgulho é ter contribuído para o avanço do conhecimento numismático no país e para a valorização das moedas de cobre, antes vistas como peças acessíveis e hoje reconhecidas por sua riqueza histórica e variedade.
A entrevista com Enio Galetti revela uma trajetória inspiradora, marcada pela paixão, pelo rigor na pesquisa e pelo compromisso com a disseminação do conhecimento. Seu trabalho mostra que a numismática é muito mais do que colecionar moedas: é estudar, preservar e compartilhar a história do Brasil através de seus objetos mais cotidianos.
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