Entrevista conduzida por Oswaldo Rodrigues para o NumisPlay
Nesta entrevista exclusiva para o NumisPlay, Hans Freudenthal compartilha sua trajetória pessoal e sua profunda ligação com a numismática, especialmente junto à Sociedade Numismática Brasileira (SNB). Entre memórias de infância, histórias marcantes e reflexões sobre o colecionismo, Hans revela como a numismática permeou sua vida, unindo paixão, cultura e convívio social.
Hans relembra que seu fascínio por moedas começou ainda criança, aos seis ou sete anos, quando guardou uma moeda especial de quatro pfennigs, cunhada na Alemanha em 1932. Apesar de não ser uma moeda comum, ela marcou sua memória de forma intensa. Ele conta sobre uma tentativa frustrada de usá-la para comprar balas, quando o vendedor informou que a moeda não tinha mais valor. O episódio ficou gravado em sua lembrança, especialmente porque, ao fugir do nazismo, perdeu todos os objetos da infância, inclusive essa moeda.
Após deixar a Alemanha, Hans e sua família vieram para o Brasil, onde enfrentou o desafio de aprender um novo idioma e se adaptar a uma nova cultura. Estudou no Mackenzie e formou-se em Odontologia, abrindo consultório em 1953. Sua trajetória acadêmica e profissional sempre caminhou paralelamente ao interesse por moedas e colecionismo.
O envolvimento direto com a SNB começou nos anos 1970, quando Hans respondeu a um anúncio de venda de moedas, conheceu Valdomiro Zarzur e adquiriu suas primeiras peças, incluindo moedas de ouro e, entre elas, a célebre peça da coroação. Ele destaca a importância de buscar a autenticidade das moedas, recorrendo a especialistas para validação.
A partir desse momento, Hans passou a frequentar a SNB, participando ativamente das reuniões e, posteriormente, integrando a diretoria em diferentes cargos, como bibliotecário e segundo secretário. Ele destaca a liderança de José Benedito de Moura, presidente da entidade por mais de duas décadas, e a importância das tardes de sábado na sede da sociedade, que se tornaram tradição e ponto de encontro para colecionadores.
Hans descreve a efervescência da numismática brasileira nas décadas de 1970 e 1980, quando era possível montar coleções completas com relativa facilidade. Peças hoje consideradas raras circulavam com mais frequência, e o convívio entre colecionadores era constante e enriquecedor. Ele relembra a aquisição da sede própria da SNB, um marco para a entidade, e destaca o papel de presidentes notáveis na consolidação da sociedade.
Para Hans, a numismática sempre foi um hobby entre várias outras atividades. Ele revela sua predileção pelas moedas de prata do Império e da Colônia, especialmente os 960 réis, mas destaca como favorita a série dos cruzados, que considera esteticamente moderna e equilibrada.
O colecionismo, para ele, vai além da busca por peças raras: é uma atividade que une lazer, cultura e socialização. As amizades construídas ao longo dos anos, o convívio nos encontros de sábado e a troca de experiências são aspectos fundamentais de sua vivência numismática.
Hans compartilha uma anedota sobre um colecionador que teve sua valiosa coleção de moedas de ouro roubada. Ao recuperar o acervo, descobriu que os ladrões haviam derretido todas as moedas, transformando-as em barras, o que ilustra os riscos e surpresas do universo colecionista.
Hans enfatiza que conhecer a história por trás de cada moeda é essencial para o colecionador. Entender o contexto histórico, o valor monetário, a época de circulação e as circunstâncias econômicas amplia o significado de cada peça. Ele ressalta que os livros e catálogos são a memória do colecionismo, fundamentais para o estudo e a preservação do conhecimento.
Entre os museus que mais o impressionaram, Hans cita o Museu Numismático de Atenas, com seu vasto acervo de moedas gregas e romanas. Ele destaca a importância de visitar museus e consultar catálogos especializados para aprofundar o conhecimento e ampliar a visão sobre a numismática mundial.
A entrevista com Hans Freudenthal revela uma vida marcada pela paixão pelo colecionismo, pelo estudo e pelo convívio. Sua trajetória inspira colecionadores de todas as gerações a valorizar não apenas as peças, mas também as histórias, amizades e aprendizados que a numismática proporciona.
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