Entrevista conduzida por Oswaldo Rodrigues
Nesta entrevista especial para o NumisPlay, Oswaldo Rodrigues recebe o professor Cauhê Sbrana, mestre e doutor em energia nuclear pela Universidade de São Paulo (USP), para uma verdadeira aula sobre a aplicação de técnicas científicas na certificação e autenticação de moedas, cédulas e medalhas. Com experiência de colecionador desde a década de 1980, Cauhê compartilha como a física e a química podem ser aliadas poderosas do colecionismo numismático.
Cauhê Sbrana inicia destacando a lacuna de conhecimento científico entre colecionadores, que muitas vezes se limitam ao uso de catálogos e à observação visual para identificar e classificar peças. Segundo ele, o uso de métodos científicos, desde os mais simples até os mais avançados, pode ser fundamental para determinar a autenticidade de moedas, cédulas e medalhas, distinguindo originais de réplicas e falsificações.
O professor relembra que a história da moeda acompanha a evolução das trocas comerciais, desde o uso de conchas e metais até a padronização dos metais nobres, como ouro e prata. Com a oficialização do dinheiro, surgiram também as falsificações, inicialmente por meio do uso de metais menos nobres revestidos por metais preciosos. Técnicas como o “teste de corte” eram utilizadas desde a Antiguidade para verificar se uma moeda era genuína ou apenas revestida.
Cauhê explica que, atualmente, existem empresas certificadoras renomadas (como NGC, PCGS, ANACS e CGC) que analisam e atestam a autenticidade e o estado de conservação das peças. No entanto, ele ressalta que o processo ainda depende muito da experiência subjetiva dos especialistas, o que pode gerar variações e limitações. Para o futuro, vislumbra o uso de inteligência artificial para padronizar e aprimorar a avaliação do estado de conservação.
O campo da arquimetria, subdivisão da arqueologia, é apresentado como fundamental para a análise de objetos históricos, incluindo moedas e medalhas. O estudo dos materiais, principalmente das ligas metálicas, permite identificar fraudes e compreender a composição das peças. Cauhê lembra que, além dos metais, há moedas e medalhas feitas de plástico, cerâmica, madeira e até osso, exigindo abordagens específicas.
No caso das cédulas, a análise se concentra no papel e, principalmente, nas tintas utilizadas, já que cada época e região empregava materiais distintos, o que facilita a detecção de falsificações e restaurações.
Cauhê orienta que, mesmo sem laboratórios sofisticados, o colecionador pode lançar mão de técnicas simples e acessíveis:
Teste do Magnetismo: Apenas ferro, níquel e cobalto são ferromagnéticos. Um simples ímã pode revelar se uma moeda supostamente de prata é, na verdade, revestida sobre outro metal.
Medição Dimensional: O uso de paquímetro e balança de precisão permite comparar as dimensões e o peso da moeda com os padrões de catálogo. Diferenças podem indicar falsificações, principalmente quando metais menos densos são usados para imitar metais preciosos.
Cálculo de Densidade: A densidade (massa dividida pelo volume) é um forte indicativo do material da peça. Métodos como o de Arquimedes, que medem o deslocamento de água, podem ser aplicados para determinar o volume de moedas irregulares.
O professor destaca a necessidade de maior padronização e rigor científico na certificação, reduzindo a dependência do julgamento subjetivo. Ele acredita que a inteligência artificial e o avanço das técnicas laboratoriais devem revolucionar o campo, tornando a autenticação mais precisa e confiável.
A entrevista com Cauhê Sbrana demonstra que a ciência pode e deve ser uma aliada do colecionador, oferecendo ferramentas para a detecção de falsificações e a valorização do acervo numismático. O conhecimento técnico, aliado à curiosidade e à pesquisa, é fundamental para garantir a autenticidade e a preservação das peças históricas.
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